Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Sob o Sol da Toscana


28/07/2014

Foto: autor desconhecido.

Muito antes de ver esse filme , já era fascinada por conhecer a Toscana. Em 1975 fui à Florença pela primeira vez. Anos depois, em 1987 fui à Siena. E os tons ocres e os ciprestes me encantaram.

Em Abril passado, em Florença fiz meu pouso. Fomos de trem vindas de Milão. E em pouco mais de uma hora estávamos em frente a Duomo, aquela catedral de mármore verde e branco, Santa Maria Del Fiore, e do Palácio Velho, A Praça S. João, do Campanário de Giotto, que nos deixaram surdos…, para não dizer mudos, diante de tamanha beleza. Sem esquecer de um olhar mais atento às Portas do Paraíso, às ruelas, mercados, comprar uma bolsinha de couro, e um museu a céu aberto com a lua cheia sobre o rio Arno e a Ponte Vechhia, seguindo pelo Corredor de Vasari. Adiante, o Bairro dos Medici, e todas as barraquinhas do mundo. Indianas inclusive, para nosso deleite boquiabertas. A Praça Ss. Annunziata, Basilica, de S. Cruz, e todos os túmulos, menções à parte. Tinha uma estátua de Dante no meio do caminho! E Daniel me perguntava ingenuamente o porquê de querer ver tanta gente morta.

Um almoço em pé, numa sandwicheria típica, com presunto crudo de javali. Logo eu que não como carne. Um sorvete de fruta de Bosco, pistache e Grazie.

Um passeio flanando sem mapa. Descobrindo castelo, o centro político da praça de La Signorina, estátuas na rua. Ih, uma de cupido! Soltando beijinhos para nós todas. Fotos, flashes, e selfies. A Galeria Ufizzi, a beleza esplendorosa de Botticelli , sua Primavera, o Nascimento de Vênus, a de Milo; Anunciação de Leonardo, e mais Ticiano, Caravaggio e Rafael. E finalmente o Museu Academia para nos render aos encantos da imensidão do Davi, de Michellangelo. Ficamos eu e Bebé desnorteadas diante daquela imensidão de homem/menino, como também das estátuas chamadas de Escravos, que o próprio Michelangelo dizia ser tão fácil de esculpir…, bastando tirar os excessos do mármore! O porquinho de Pietro Tacca; a Loggia dos Lanzi; Giambologna: o rapto das Sabinas, e Cellini: Perseu. Compro um livro e leio sobre Santa M. Novella, e o palácio Pitti, não sabíamos para onde olhar, nem mais o que exclamar. A arte, a beleza são realmente desconcertantes.

Mas é das alturas da Piazza Michelangelo que se tem a melhor paisagem. Com todos outros Davis nus nos indicando as escadarias, onde lá, todos se sentam para assistir ao por do sol. O sol da Toscana e todos os seus tons alaranjados. Gira o sol! Um músico solitário arrumava os seus instrumentos e lá começava a tocar clássicos do rock. Nada mais destoante. Mas quem há de negar que essa lhe é superior? Voltamos ao centro literalmente aos pulos, pelas ladeiras, pelos córregos, batentes, por entre os musgos, as flores, e a cúpula da Duomo – a nossa bússola.

À noite, um risotto de alcachofra. A igreja Santa Cruce, mulheres dançando na praça. Juntamo-nos ao coro, digo à dança. E Uma maratona. Lá se foi Daniel a correr. Fazer ponto em Florença é um luxo só. Capital da Toscana, pode-se tomar o rumo que se quer.

Dessa vez o roteiro foi modesto. A prioridade era provar as delícias, tomar vinho da casa, e andar sem destino. Sem economizar.

Uma excursão valiosa. Ônibus cedinho para San Gimignano. Um lugar medieval, no alto de colinas, toda em tons de ocre/terracota, rodeada de muralhas por todo lado. E muitas torres. Onze acho. Cada beco , um susto. Pouca gente mora lá. Muitas lojinhas de sabonete, alfazemas, de iguarias, temperos, azeites, e balsâmicos. Trouxe umas trouxinhas de temperos especiais que já pude saborear nos pestos e pennes feito modestamente. E minha cozinha toma ares das colinas e dos ciprestes…

Próxima parada, uma vinícola Chianti. Com direito à degustação, pequenas porções de pecorino, massa ao pomodoro, vinho de entrada, saída, bruschetta, e vinho santo com biscoito. Sentia-me Santa Madalena arrependida dos pecados da gula.

Depois a tarde em Siena. Que majestade aquela praça! Comprar lenços belos e me sentir Cláudia Cardinale por alguns momentos. Ter os pés doídos naquelas pedras antigas, imaginar os gladiadores, músicas, domingo á tarde…Sempre aos domingos!

Depois findamos numa vila típica da região: O Castelo de Monteriggioni, e a Via Gramsci, com lojinhas, penhascos, cafés, sapatos exóticos, ramas de alecrim, flores lilases, e aquelas cenas tão típicas de filmes: “Comer, beber e Rezar”, “Um Ano Bom”( de repente fiquei confusa com Russel Crowe, nesse filmes- um lutador e um homem que se modifica com a paisagem e o vinho), ou mesmo entender o que ouvi um dia de uma entrevista de Isabella Rosselini, quando falava o que sentia quando estava na Itália. Falava da subjetividade italiana, que a conquistava com suas gritarias, as mãos falantes, o sabor das comidas, os aromas das ervas, e claro, os vinhos. Como todos que assistiram ao filme que dá título a esse texto, ainda vou alugar uma casinha, em Cotorna.

Em outro dia, ainda teve Lucca. E suas muralhas mais. Um drink na Piazza Anfiteatro. A sua Duomo também, e passeios errantes nos jardins que cercam esse lugar tão belo tão belo. Passamos na casa de Puccini. Confesso minha ignorância em óperas, mas cheguei a ouvir o som da Tosca, La Boheme e Madama Butterfly.

Salve as regiões pitorescas como a Cornuália- Inglaterra, Provence-França, Toscana-Itália, e Andaluzia-Espanha, e todo o charme dos pequenos lugares mimosos mundo afora.

Chegamos em Roma para mais um encantamento – “Para Roma com Amor”! Uma hora e meia de trem de Florença. Uma paisagem exuberante. A estação Termini, sempre uma emoção nos trens. Vai e vem. Tudo acontece. Estou em um filme de Fellini, ou simplesmente a trilogia em Viena e Paris, “Antes e Depois do Amanhecer”?Aos meus ouvidos a trilha era uma só: Nino Rota.

Não foi minha primeira vez em Roma. Mas depois de algumas décadas, o meu olhar com certeza foi outro. Queria re-ver, contemplar, e me deleitar simplesmente. Atônita com toda a beleza romana e seus principais sightseeings: O Coliseu, e seu silêncio assustador; o murmúrio dos que ali sofreram. O Forum Romano é um negócio! Ruínas, o Império, a História, e tudo que estudei no ginásio…, os olhos não cabem. A máquina fotográfica não cabe. E nós, literalmente em silêncio profundo. De total bliss e também de um sinal de respeito aqueles momentos históricos. A majestade do Senhor do Tempo.

O Monumento a Vittorio Emanuelle II – é algo que destoa das ruínas, mas também nos deixava sem voz pelo descalabro da imponência. Olhos para a Tiberina, Piazza da Republica e as fontes das Naiades, e a Basilica de Santa Maria Maior, A Fonte de Barcaccia, Piazza Del Popolo, Castelo Sant´Angello..

O almoço? Uma salada de atum. Um passeio na Via Veneto. O Patheon!!!! E muda novamente. E surda. Só vejo luzes, sombras, ruídos do mundo antigo. Ouvi Vivaldi nos fones do ônibus, voltas ao Coliseu, ópera, Viva Itália! A lembrar de Chico Buarque e seus depoimentos apaixonados por esse país. Ou ainda Marcelo Mastroiani, Sophia Loren, Monica Vitti, Stephania Sandrelli, Laura Antonelli e uma outra Anita, a Ekberg, com seus seios fartos, desnuda na Fontana de Trevi. Lembrei-me dos filmes no Cine Municipal e todos os Divórcios à Italiana. Tin Tin com Viño, mussarela de buffala, e aceto balsâmico!

A noite era em Transtevere. A Olinda Romana. Que chegada! What a view! À noitinha, à luz do lusco-fusco, uma lua cheia só para mim, um homem tocando safona, outro tocando Lady Madona e Yellow Submarine. Sempre sinto uma nostalgia alucinante ao ouvir música nos lugares alhures. Foi assim com um certo solfejo de realejo, em Pigalle, Paris, há décadas também; ou uma outra sanfona em Notting Hill, nos mágicos 70´s. Vou me enforcar de tantas echarpes! Da Bolívia, de cashmere, rosas, fúcsias, todas as cores. Por alguns momentos sou Isadora. Ducan! De repente um restaurante de nome “Baccanalle”, sugestivo! Ai meus sonhos! Mil perdões!

Café expresso, luong, maquiatto, cappucino, croisants…Amore mio!

Muitas línguas aos ouvidos e a sanfona da pontezinha à caminho de Transtevere não me sai das lembranças. Flanando nos lugares. E ouço Dire Straits pelas ruas… e Pink Floyd. O mundo é rock! E La Doce Vita! O cinema! A grande Beleza! La Strada.

E janto Ravioli de espinafre com molho de tomate. E a Piazza de Spaña e a Piazza Barini. A loja de Águas de Parmas! Sou tratada como artista….mas como não sou, olhei tudo , experimentei todos os aromas, e fui brincar de Madame na Dolce e Gabana! Sem ler as notícias do Brasil, me sinto alienada. Folheio o Corriere Della Sera…Mas como é bom, passear no Leblon. Digo em Roma.

A Piazza Navona foi invadida pelos Coreanos . Só tem porta celular! De oncinha! Peço passagem para fotos. E a Fontana de Trevi? Um amontoado de turistas, e nem verão era, e por turnos, joguei moedas de frente, de trás, todos os ângulos. Quero voltar!

Passeio pela Sétima Colina, jardins exuberantes, por do sol, e voyeur que sou, olhei pelo buraco da fechadura e vi a cúpula da Capela de São Pedro. Fui ao Vaticano e não vi o Papa. Já conhecia a Capela Sistina e perdi de vê-a novamente. Nem a Pietá. Alcachofras ao azeite, Prego!

Confesso que depois de alguns dias, ficamos imunes à tanta beleza. Desleixamos as obras de artes, os museus, tudo fica óbvio demais, e tudo que queremos é rua, gente, e paisagem a céu aberto. Já não conseguimos enxergar tanto. Ficamos com o olhar acinzentado de tantas tantas cores e formas.

É hora de voltar para casa. Aquietar-se. O cotidiano. Nossa cama. Nossa intimidade de um olhar só. Para depois quem sabe, lançar-se de novo aos novos destinos. Destinos de cores púrpuras!

Arrivederci! Caro Diário!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 24 de Junho, 2014

 


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