Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Brasil

SÍNDROME DE ESTOCOLMO COLETIVA


14/03/2020

 

O wikipedia dá o significado da “síndrome de Estocolmo”. É o nome normalmente dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo amor ou amizade perante o seu agressor. O momento político nacional nos faz encontrar muita gente passando por esse quadro de perturbação mental

Revela-se um desequilíbrio emocional que os afasta da realidade que oferece perigo. Admite até as violências que lhes são aplicadas, na interpretação de que sejam um mal necessário. Algo parecido com esposas que sofrem agressões físicas e morais do marido, mas continuam a defende-lo. Atitudes de subserviência inadmissíveis nos tempos de hoje.

Os alienados sofrem desse tipo de distúrbio. São convencidos de que não lhes resta outra alternativa de sobrevivência, a não ser submeterem-se às vontades dos opressores. Desenvolvem um sentimento de absoluta dependência, no entendimento de que na sujeição à opressão reside a esperança de se livrarem de situações piores. Na compreensão de que se sentem desamparados, terminam aceitando a afirmação do velho ditado popular: “dos males o menor”. Descartam integralmente a possibilidade de outras opções que possam oferecer-lhes ganhos de qualidade de vida. Firma-se então um vínculo instintivo, irracional, insensato. Não conseguem perceber potencialidade ameaçadora nos opressores.

Pequenos benefícios ofertados já são suficientes para a demonstração de gratidão, esquecendo as consequências de decisões que lhes trazem prejuízos irreversíveis. O mundo passa a ser visto conforme a ótica dos seus comandantes. Enxergam neles uma falsa proteção, porque foram seduzidos por uma retórica que os fazem acreditar nisso. Entendem que contrariar as ideias dos mandantes aos quais decidiram se submeter configura-se um ato de deslealdade. Recusam pensar por si próprios.

Boa parte da população está enfeitiçada por seus algozes, imaginando que eles têm a solução para todas as suas mazelas. É a “síndrome de Estocolmo coletiva”. Adepta do dirigismo autoritário, deposita neles todas as suas esperanças e anseios. Essa é a doença de um povo que acha graça da desgraça. Que acredita em promessas e mentiras para não desenvolver esforços de reação diante dos desmandos e das injustiças sociais. Que aceita lideranças psicopatas, tornando-se cúmplice de suas arbitrariedades, ajudando-as a alcançarem objetivos espúrios.

Na “síndrome de Estocolmo coletiva” revelam-se devoção, idolatria e apatia para reagir. Prepondera o medo da mudança e da própria liberdade, porque se evidencia um sentimento de desesperança. Não está sendo fácil acordar essa parcela da população que se sente satisfeita em ser presa dos sequestradores de mentes. Mudar dá trabalho. Por isso prevalece a escolha de que é melhor ficar do jeito que está, influenciada pelo discurso de que com o sacrifício de agora, dias melhores virão, desconsiderando qualquer proposta que produza soluções disruptivas.

 


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