Anne Nunes

Jornalista e Gestora de Redes Sociais.

Sociedade

Se livre da culpa por ser humano


21/09/2021

A última vez que atualizei minha coluna no WSCOM foi em julho. Muito tempo se passou desde então, variados assuntos tomaram conta da cena nacional e internacional. Notícias surreais como “Manifestantes pedem golpe militar”, ou “Há excesso de vacinas no país” me trouxeram uma vontade enorme de escrever uma crítica bem ácida, como de costume. Mas, ao abrir o computador, as palavras fugiam. O cansaço mental predominava e me engessava como nunca antes.

Lendo a Folha de São Paulo esses dias, me deparei com uma matéria que falava sobre uma geração que está à beira do esgotamento. Mas que tipo de esgotamento? Uma exaustão extrema ligada ao trabalho, mais conhecida como Síndrome de Burnout. A palavra se refere a algo que deixou de funcionar por uma espécie de estresse crônico e de maior gravidade relativa ao contexto do trabalho.

A geração mais atingida são os millennials, pessoas nascida entre os anos de 1980 a 1995 que hoje lidam com uma carga altíssima de demandas em um ambiente cada vez mais digital e feroz, onde tudo acontece de forma rápida, instantânea e líquida. E no meio disso, a autocobrança por uma vida perfeita e realizada, por vezes, nos sucumbi. Passamos a retroalimentar todas as expectativas do mundo em nossos ombros. Com as redes sociais, essa cobrança se torna excessiva e diária, afinal, você passa a idealizar realidades que, por vezes, não condizem com a sua vida.

A drástica queda nas garantias de aposentadoria, leis trabalhistas, o aumento do poder de compra e, consequentemente, dos preços, nos fazem procurar cada vez mais possibilidades de renda, dando espaço para a nova “economia dos bicos”. E essa busca desenfreada, faz com que nosso tempo seja cada vez mais engolido, reduzindo nossos períodos de lazer. As horas de descanso acabam sendo substituídas pela ansiedade de estar sempre fazendo – ou se cobrando fazer – alguma coisa produtiva.

Depressão, ansiedade e burnout são os desafios da contemporaneidade e, sem dúvidas, se agravou com a pandemia, pois passamos a perceber que a nossa vida está sempre por um fio, e com isso, surge à urgência em viver buscando sempre mais. Dessa forma, a nossa saúde mental e emocional vai ficando em segundo plano.

Esses momentos em que a nossa inteligência, atitude, eficiência e proatividade se tornam ineficaz, apenas nos mostram o quanto somos seres frágeis. Quando algo assim nos vence, precisamos parar, refletir e aceitar a nossa limitação como seres humanos. Precisamos aprender a nos livrar da culpa pelas nossas imperfeições.


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