Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Saques às feiras, preocupante realidade da seca


11/11/2015

Foto: autor desconhecido.

 

No semiárido nordestino e particularmente da Paraíba o povo sofria desde o final da década de setenta com um forte período de estiagem. A lavoura devastada, os rios, açudes e barragens secando, provocavam a escassez de alimentos e de água para a sobrevivência humana e animal. Como se não bastasse a séria crise econômica que o país vivia naquele ano. Assim 1980 começava trazendo desolação, tristeza e desesperança para cerca de oitocentos mil paraibanos.

O clima era de tensão social com o povo dessa região não encontrando alternativas, a não ser promover saques a feiras livres e estabelecimentos comerciais, no desespero da busca de sobrevivência. Isso se tornou uma crua realidade do cotidiano nordestino.

Historicamente sempre que isso ocorre ficamos a ouvir os discursos políticos prometendo ações que possam minimizar esse padecimento. Muitos, lamentavelmente, se aproveitam para faturarem política e financeiramente com o problema. É o que nos acostumamos chamar de “indústria da seca”.

Na Paraíba o governador Tarcisio Buriti decidiu decretar estado de emergência em cento e doze municípios. A saída que a administração encontrava era a formação de “frentes de emergência”, alistando flagelados para trabalharem na construção de pequenos açudes e estradas. Em nosso Estado cerca de cem mil pessoas se inscreveram para essas frentes de trabalho.

Eram preocupantes as noticias de ameaças de invasão às feiras e saques ao comércio desses municípios mais castigados pela seca. Esse cenário tão comum na época, felizmente, desapareceu a partir dos programas sociais recentes. As famílias das áreas rurais já não se sentem motivadas a saquear, nem fugir para outras regiões na necessidade de subsistência.

Claro que a questão da seca está longe de ser resolvida, mas já não vemos aquelas convulsões sociais que afligiam a todos nós que acompanhávamos com um natural instinto de solidariedade, embora nos sentindo impotentes para resolvê-los, o noticiário a respeito. Viver da agricultura e da pecuária nesses tempos de seca é a certeza de experimentar dias de sofrimento.

O nordestino fica a apelar para a clemência divina na oferta de condições de vencer o flagelo da seca, sem a obrigação de ficar mendigando ajuda do poder oficial, muitas vezes exercida por puro interesse eleitoreiro.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.

 


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