Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

São “favas contadas”


09/06/2017

Foto: autor desconhecido.

 

Gosto de fava como tira-gosto. Fico chateado quando elas são colocadas como algo desprezível, desinteressante, sem importância. Como, por exemplo, ao ver alguém mandando “a modéstia às favas”. Traduzindo a afirmação, ela quer dizer que prefere deixar de lado a humildade por julgá-la tão desconsiderada quanto as favas.

Incomoda-me também a expressão “favas contadas”, revelando que um acontecimento do qual se espera indefinição, incerteza, dúvida, já é tido antecipadamente como previsível. Principalmente ao se tratar de julgamento exercido por um colegiado. Nada mais absurdo do que a contagem de votos ficar conhecida antes de que eles sejam expressos publicamente. É, no mínimo, uma falta de respeito a tantos quantos possam, de alguma forma, serem prejudicados com a decisão a ser tomada. Dá a entender que existe uma força maior a determinar o resultado.

Essa expressão popular tem origem nas eleições realizadas nos mosteiros medievais para a escolha do abade. O processo de votação era feito na utilização de favas, com os candidatos sendo diferenciados pelas cores das favas (brancas ou pretas). O eleito, então, era proclamado após a contagem das favas. Mas era, embora estranha, uma forma lícita de se buscar conhecer a manifestação majoritária dos votantes.

No entendimento contemporâneo, “favas contadas”, tem um sentido condenável, porque denota uma eleição ou julgamento sem isenção, com votos direcionados por forças alheias ao colegiado ao qual está submetida a decisão. Se o resultado é conhecido por antecedência, fica claro que o propósito é unicamente o de tentar legitimar uma resolução previamente estabelecida em favor dos interesses de um lado das partes litigantes.

Muito triste constatar essa prática nociva aos princípios de seriedade e equidade da justiça. Se são “favas contadas”, fica parecendo uma farsa, uma enganação, uma estratégia de simular decência num julgamento. Lastimável.


 


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