Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

SALÃO DE BELEZA


21/12/2010

Foto: autor desconhecido.

 "Se ela se penteia eu não sei
Se ela usa maquilagem eu não sei
Se aquela mulher é vaidosa eu não sei, eu não sei, eu não sei"

Vem você me dizer que vai num salão de beleza
Fazer permanente, massagem, rinsagem
Reflexo e outras cositas más

(Zeca Baleiro)

As pesquisas já mostram: as mulheres, e parece que agora os homens também, podem se abster do pão de cada dia, mas jamais de uma escova, uma unha feita, uma visitinha ao salão. Daí que encontramos um a cada esquina. Dos mais chiques aos mais simplórios. Mas nada para alvoroçar tanto à cabeça das mulheres que um bom esmalte. E agora com todas as cores neon…A Chanel sabe das coisas.

Não sou das mais assíduas, mas a cada quinze dias vou lá avermelhar minhas madeixas com Henna em pó vermelha, costume que comecei em London London, seduzida pelas meninas alternativas/punks e de pele de porcelana, esquecendo eu que era morena, e que tinha os cabelos pretos retintos. Passava o dia todo com aquele pó com cheiro de maconha, para depois as pessoas me olhares com um olhar de soslaio e pensarem Hum Hum?

Quando era pequena, ia com minha mãe para o Salão de Júlia, uma cabeleireira daqui, das antigas, uma mulata que parecia Elza Soares, tanto na ginga como na labuta de todo dia. Lembro que ficava entediada com o tempo tão lonnnnnnnnngo, e odiava secador com aquela quentura horrível. Tinha também o salão de Edite, que só fui algumas vezes, também com mamãe de lado. Duas pioneiras, empreendedoras guerreiras e que deram a largada nessa trilha por entre grampos e serrinhas de unha. Ficava observando as madames da cidade, folheando revistas (ainda hoje leio a Revista Caras e Contigo, para me atualizar…), e sentindo aquele cheiro horrível de amônia, que anos depois vim a sentir na própria cabeça, quando no início dos anos 70, fiz permanente no cabelo (ainda não existia Babyliss), para ficar parecida com os Black Power…Imagine, eu, com esses meus fiapos, querendo ficar com o cabelo crespo. E tinha que botar bobs, que eu achava horroroso (pela referência à mulher doméstica) e tinha que fazer rolinhos, mas o resultado? Me dava uma certa graça, por alguns momentos. Poucos, mas o suficiente para eu me sentir uma hippie autêntica. Anos depois, ainda em Camden Town, comprei uma chapinha de frisar o cabelo, e me deleitava em ficar com a aparência fake/dark. Tanto apelo aos cabelos da moda, me lembra o tempo em que ficava diante do espelho, puxando o cabelo fino em coque, tentando tranças (que até hoje acho bárbaro!); ou picotando franjas imaginárias ou reais. Uma vez, já mãe de Lucas, descolori uma parte dela, branco sabugo. Ficou bem exótico! Até hoje, o reitor da época deve lembrar daquela funcionária com ares de mãos de tesoura!

Sempre tive fascínio pelos cabelos crespos e longos. Coisa raríssima hoje em dia. Aquele ar blasé de mulher desarrumada. Continuo gostando dos cortes desestruturados, cabelos desarrumados, e tudo meio assanhado, com duplo sentido e tudo. Mas hoje, as mulheres enlouqueceram todas. Todas sofrem da síndrome dos cabelos sereia, com os cabelos iguais: mechas loiras e passados a ferro. E fogo! Acho que o meu ficou na moda, não pelo ferro, mais pela brasa, Mora! Mas, essa coisa de cabelo espichado vem de longe. Lembro também nos meus tempos infantis, das meninas fazendo um negócio chamado de toca ou rodilha. Enrolava os cabelos com friso por horas, e depois pronto! Lá estavam as Rapunzel de araque! Quando chovia, tudo voltava aos trinques.

Voltando ao salão, esse espaço tão sui generis, e tão feminino, tão bem retratado no filme Caramelo ou cantarolado na música de Zeca Baleiro (música essa que uma vez dancei para um amigo secreto), espaço de acolhimento e fidelidade das mulheres – pelo menos ao salão de beleza. Depois de Júlia, aí já adulta e independente, fui durante anos, freguesa de um salão, naquele bequinho no oitão do Cine Municipal. É, tínhamos cinema no centro! Adorava pegar o ônibus e ir fazer as unhas. Como sempre roí, lá tinha uma manicure, Da Luz, que cuidava desse pedaço, me iluminava como seu próprio nome. Ficava de olho grande para as mulheres de unhas largas e quadradas. Ainda hoje tenho fetiche por unhas curtas e possantes, e pintadas de cores berrantes. Depois, uma voltinha pelas ruas do centro, e, se fosse à tarde, um cineminha, e meus cuidados de beleza se ampliariam.

Mais na frente, freqüentei o salão de Luzinete, no Bairro dos Ipês. Igualmente me senti cuidada por aquelas profissionais que acompanhavam minha vida de longe, e de perto: namoros, casamentos, divórcios, filhos, estudos, tristezas e alegrias. Um cafézinho, uma bolachinha, um produto novo, um corte mais desfiado…E não tem coisa mais desesperadora para nós mulheres que cortar o cabelo. Sou de rompante, quando acordo querendo cortar o cabelo, tem que ser naquele dia. Coisa de força de Sansão mesmo. Acho que é por isso que as brasileiras gostam tanto de cabelos de Iracema. Os fios não podem esperar, ficam estressados. Já saí de salão chorando, blasfemando, e me sentindo a mulher mais feia do mundo. Também já saí feliz, poderosa, e é assim que vejo as mulheres quando saem do salão de Aninha, o meu habitat por mais de quinze anos hoje. Lá encontro amigas dos tempos da brilhantina, digo Lourdinas; amigas de vizinhança; amigas da vida; colegas; conhecidas; uma diversidade ímpar para trocar desde receita de bolo, até sobre o novo ministério da Dilma. Ou o novo Secretariado de Governo. Hoje mesmo vou comentar feliz sobre a escolha de Marcinha Lucena para a Educação e Cida Ramos para Desenvolvimento. E a novela das oito? O preço do peru? As eleições, no último pleito pegou fogo. Tinha mulher de tudo que é partido e torcida.

Hoje, com as novas técnicas de escovas, tinturas, relaxamento e hidratação, etc…as mulheres saem desse espaço, balançando seus cabelos todas como Dalila, com toda a força nas madeixas. E eu, ainda com a minha penugem cada vez mais vermelha (sim, pois durante esses 24 anos de Henna, o cabelo ficou branco e só Carolina não viu!), estou lá fiel à Tetê e Nete, tomando capuccino nas horas vagas, futucando os esmaltes de Nilze: tem aquele azul anil? E elas sempre a dar risadas com minhas unhas roídas, com minhas peripécias nas cores (já pintei uma de cada cor, umas tirinhas azuis no dedão, ou no mindinho…) isso tudo antes da Chanel lançar os verde olivas. E já falei do filme O Marido da Cabeleireira, item importante da minha lista de admiradora de filmes.

Nesta semana de Natal, sem querer mais falar de Peru ou de Jingle Bells, lembrei desse lugar comum à nós todas; lugar de tamanha intimidade para às mulheres; a alcova das transformações. E tudo em nome da beleza , ainda mais nos festejos de final de ano, onde queremos ficar mais bonita do que o ano todo. Como se fosse possível! Sei que a beleza vem de dentro, mas que uma ida ao cabeleireiro levanta a auto estima, isso já é comprovado em números. Os psicoterapeutas que se cuidem. Uma enxaguada, um aplique, uma cutícula, uma conversa de pé de ouvido com a manicure, ah! Isso já é assunto suficiente para terminar o ano!

E lá vou eu, retocar à raiz e os Xs dos problemas!

Feliz Natal para todos/as os leitores/as e um 2011 com mais poesia e boas risadas vida afora. De cabelo cuidado e unhas pintadas de rosa choque!
Saudações Fúcsia!

Ana Adelaide Peixoto, João Pessoa 20 de dezembro , 2010


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