Geral
Sacrifício ao deus mercado
23/02/2015
Foto: autor desconhecido.
O mercado é um ente abstrato com poder sobre os 7,3 bilhões de habitantes do mundo. Concretamente a sua divindade é uma criação dos seus ideólogos, teóricos e áulicos defensores, sob o comando dos interesses econômicos determinantes.
Os fazedores de opinião pró-mercado o consagram como oniciente, onipresente e infalível. As sacrossantas leis da oferta e da procura seriam uma espécie de mão divina para salvar a humanidade da escassez e penúria econômica.
Misticismo à parte é um contrassenso negar a importância socioeconômica dos mercados, enquanto criação milenar da cultura e civilização humana. Mas como negar os absurdos que, no capitalismo, em nome dos mercados são cometidos?
No ano 2008, o mercado financeiro teve um papel decisivo na geração da primeira grande crise do sistema capitalista globalizado. A superoferta de crédito fácil e barato a clientes duvidosos levou a quase falência do sistema bancário-financeiro mundial.
A crise concentrou-se nos países desenvolvidos, onde a suposta eficiência dos mercados é praticada. Para livrar o mundo da depressão econômica, os Estados nacionais adotaram políticas fiscal-monetárias que custaram dezenas de trilhões de dólares.
Os países mais ricos continuam sob os efeitos da crise. As economias da Europa estão estagnadas e com alto desemprego e a do Japão em recessão. A economia dos Estados Unidos está em expansão, mas isso é fruto de suas condições privilegiadas.
Essa é a regra, quando os mercados erram a população paga a conta. O mesmo ocorre, quando eles entendem que os governos estão atrapalhando o seu livre funcionamento. Este é o caso atual do Brasil, com seus altos níveis de dívida e déficit públicos.
Uma solução racional, sem grandes sacrifícios, é possível. O governo brasileiro deve fazer a sua parte, pondo fim à crise fiscal. Simultamente, cabem às empresas, à luz de concepções não imediatistas dos mercados, retomarem os investimentos produtivos.
Mas não é bem assim. É preciso impor o sacrifício pedagógico à sociedade para que, através do governo, não volte a errar. Primeiro o ajuste fiscal-monetário com recessão, desemprego e corte de benefícios sociais. Só depois desse saneamento funesto, os mercados sinalizam às empresas que podem voltar a investir.
Não se podem evitar as crises do capitalismo. Mas é possível minimizar os seus efeitos e duração. Para isso, é fundamental romper com a ideia mística de que, isoladamente, o mercado ou o Estado pode ser um big father solução. No mundo contemporâneo, cada vez mais um deles vale menos, sem sincronia com o outro.
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