Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

SABERES & SABERES


10/08/2010

Foto: autor desconhecido.

Para Marieta Tavares, aniversariante do domingo, Dia dos Pais &
Para os pais em geral , e para o meu pai (in memoriam) em particular, que sabia tanto!

Educação: Português, matemática, ciências, geografia, história e, principalmente, gentileza. (Adriana Falcão em Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento, grifo meu)

O meu pai Romero, era um homem simples, filósofo e circunspeto, enxadrista e descrente da natureza humana. Era um autodidata e leitor exigente de história, geografia e essa mesma filosofia. Não entendia poesia, mas era exímio em matemático…e apreciador da natureza. Mas hoje, dia dos pais, sou-lhe grata por tanta delicadeza e sabedoria exatamente por essa mesma natureza, a humana. E começo falando do meu pai para o assunto que vem a seguir. Acho que porque era um homem sábio, observador, e tinha um ritmo parecido com o meu, andava olhando para baixo, pensativo, enquanto eu, ando olhando para as nuvens. Pensativa também.

E pensando na vida, lembrei de que, uma vez , utilizei nas aulas de Inglês Instrumental, uma crônica, acho que de Paulo Mendes Campos, que tinha um título que mencionava os nomes comuns: João, Francisco, José….e falava dos saberes do homem simples. Homens do campo, da pesca, pessoas que não estudaram , mas que tinham sua sabedoria sobre o tempo, as marés, as pedras, as delícias e os perigos de um dia após o outro.

Na vida, já tinha certeza desses saberes, mas na literatura, fui gostando do tema. E aí veio o conto The Nightingale and the Rose , de Oscar Wilde, onde razão e emoção se debatem; o saber dos livros e o saber da natureza; a arrogância; a metafísica; a crença no amor romântico; a doação e o saber altruísta de um rouxinol.

Do mesmo tema, trabalha o filme Educating Rita (O despertar de Rita), comédia dramática inglesa, 1983, dirigido por Lewis Gilbert, e baseado em peça teatral de sua autoria. A estória, conta sobre uma moçinha suburbana que desestabiliza o scholar oxfordiano interpretado sisudamente por Michael Caine. Daí em diante só o discorrer de uma inversão de saberes: O intelectual deixando quebrar seus paradigmas pela espontaneidade da cabeleireira de vida e sotaque working class; e a mocinha da periferia se desencantando pelos mesmos saberes da universidade, onde ela pensava ali estar o supra sumo da excelência, quando suddenly, descobre que entre o seu salão de beleza nos outskirts de Londres e Oxford, muita coisa se escondia além da sua vã filosofia de bobes e livros de poesia.

O escritor inglês D. H. Lawrence, célebre por seu romance O amante de Lady Chatterley e Women in Love, tão logo se torna um catedrático das letras inglesas, começa a re-avaliar suas opiniões sobre o pai, mineiro e sem educação, e sobre sua mãe, delicada, de um status intelectual superior, tema que lhe rendeu prêmios como sua obra biográfica: Sons and Lovers. Nas suas retrospectivas, achava que tinha misjudged o seu pai, e que sua violência, inclusive doméstica, viria de uma virilidade máscula e instintiva, não tocada ainda pelas ditas, convenções vitorianas, quiçá um disfarce para esse comportamento mais polido e sem fuligens de carvão. Em toda sua obra, apresenta sempre um personagem outsider, seja ele um jardineiro, um cigano ou simplesmente um camponês livre dos laços das circunstâncias públicas ou privadas.

Mais recentemente, o filme Educação, direção de Lone Shcerfig, Inglaterra, 2009, como o próprio título antecipa, mostra não somente a Educação pós guerra inglesa, ou mais apropriado falar do tédio e inércia dos jovens, mas principalmente da sedução de uma jovem pelas possibilidades de arte e glamour vindas de um homem mais velho. Os homens, até hoje, são fascinados por descobrirem os mistérios para suas Lolitas, ou de exercitarem os seus saberes e (podres) poderes, diante da inocência de uma donzela. É o chamado (des)virginamento literal e simbólico que ainda se faz promissor. Quão sedutor é a detenção do saber. E, saber é poder!

E de plebeu em plebeu, de Pigmalião em Pigmalião, e de My Fair Lady em My Fair Lady, esse é um tema recorrente nas estórias. O saber institucional e erudito versus o saber intuitivo, impregnado na vida de todo e qualquer ser humano.

O chamado Efeito Pigmaleão (também chamado efeito Rosenthal), é nome dado em psicologia ao efeito de nossas expectativas e percepção da realidade na maneira como nos relacionamos com a mesma, como se re-alinhássemos a realidade de acordo com as nossas expectativas em relação a ela. Não sou florista, nem fair, nem lady, nem uma aluna apaixonada, nem muito menos uma cabeleireira…. um passarinho? Talvez! mas, o fato de gostar de escrever crônicas e de usar brincos…, por vezes me acham um ser exótico e diletante; que vê a vida de forma prosaica (e confesso que sou, e vejo! Gracias a la vida!); um ser para não ser levado a sério (e não sou!); um ser disperso e que vive no mundo da lua (e vivo!). Falo disso tudo, pois, uma vez que tenho esse olhar cronista e poético diante da vida, muitas vezes posso parecer (não)educada e (não) acadêmica, e não sou! Acredito que, sempre entre uma vírgula e outra, podemos nos distrair. E digo mais, procuro não franzir tanto a testa, nem sempre consigo. Além de dar rugas de expressão irrevogáveis, podem transmitir saberes até institucionais, mas sem viço e beirando histerias de fogueiras e de vaidades.

Desculpe-me a divagação, mas já nem sei mesmo o que eu queria falar….Pigmaleão?Educação? Saberes?

Tudo junto. Tudo misturado! : E me arvorando a ser um pouco Socrática…concluo: Só sei que nada sei!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 8 de Agosto , 2010 – Dia dos Pais


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