Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Rio, para gringo ver


16/06/2015

Foto: autor desconhecido.

Sou uma eterna apaixonada pelo Rio de Janeiro. Desde os tempos de menina quando ouvia as estórias do meu pai sobre o seu tempo por lá, a falar da Rua do Ouvidor, da Av. Rio Branco, dos ternos brancos, chapéu, das cantoras: Marlene, Araci de Almeida, e Emilinha Borba, e outras carioquices. Cheguei a morar no Rio quando tinha um ano de idade, e até hoje escuto minha mãe contar minhas peraltices na pracinha do Leme. Acho que esses registros me marcaram até hoje, pois quando chego no aeroporto Galeão, me sinto daquele lugar e me emociono ao ouvir o samba do avião. Ela é carioca então…. E durantes todos esses meus longos anos muito visitei essa “minha cidade” do coração.

Fui passar o feriadão de Corpus Christi no Leblon, para ver se me fazia fon fon! E perambulando por esse bairro tão particular e belo, encontrei logo de cara com o autor de novelas Manoel Carlos, entendedor do cotidiano das pessoas dali, e que tem mesa cativa na livraria Argumento, lugar que quase fiquei sua partner.

Foi uma viagem afetiva, para visitar amigos queridos de longos tempos. E fazer reverências a alguém que partiu. Por isso, foi também uma viagem sem grandes pretensões. A ideia era o encontro. E claro, passear pelas calçadas. Molhar os pés nas águas azuis do Rio. Sentir o friozinho do outono maravilhoso dos dias ensolarados. Depois, comprar o jornal do dia e tomar café com pão na chapa no Talho Capixaba. Brindar a amiga anfitriã com chope no Jobi com bolinhos de bacalhau. Um almoço com amiga de infância no La Bicicleta do Jardim Botânico, ouvir Tom Jobim cantarolando os Passarim e me agarrar na sua Sumaúma. Uma exposição sobre o Rio Antigo no Instituto Moreira Sales. Um brinco novo na Feira Hippie. Um suco de morango fresco nas casas de suco em cada esquina. Uma pizza na Capricciosa. Um brinde com os amigos Bruno. Um livro lançamento de Virginia Woolf – O Sol e O Peixe, prosas poéticas, alguns CDs, e flanar por ali.

Enquanto contemplava as árvores frondosas do Leblon, fiquei a pensar que o Rio de Janeiro , além de ter a sua beleza soberana, oferece aos turistas algo que não tem em quaisquer outro lugar do mundo. Beleza e diversidade. Beleza e originalidade. Beleza e unicidade. Beleza e Samba no pé!

E esse gringo pode começar pelas calçadas de Copacabana. É verdade que o lugar está meio decadente. Mas a sua decadência avec elegance é superada por aquele calçadão icônico e cartão postal. E vai-se com praia, caipirinha, comida de boteco, gente diversa, de shorts e havaianas, inclusive os mais velhos – o que é bonito de ver.

Segue-se até Ipanema, morro dois irmãos, por do sol no Arpoador, e tudo que as praias oferecem.
Depois vai ouvir samba na Lapa (Teresa Cristina no Carioca da Gema ou simplesmente sambar sozinho no Rio Scenarium). Se for no início do mês, ainda tem feirinha de antiques. Subir ladeira em Santa Tereza. Passear pelo Aterro e tirar a foto mais bonita do Pão de Açúcar, não sem antes olhar para aqueles postes gigantes que a arquiteta desse parque urbano, Lota de Macedo Soares (Flores Raras), pensou em representar como se fosse a luz da lua! Praia Vermelha na Urca. Andar de Asa Delta. Ir ao Cristo e Pão de Açúcar – óbvio! Claro que tem os vários Shoppings, mas ainda gosto das calçadas e suas lojinhas, como a dos anéis do Sobral e dos colares em acrílico laranja do pão de açúcar. Sim, mas o Shopping da Gávea, além da lojinha Parceria Carioca e as novidades off shopping, tem cafés e uma atmosfera mais carioca, digamos. Depois parada na Livraria da Travessa para um pequeno almoço. E comprar o DVD de Baby Consuelo do Brasil, e um livro de pintar de Edward Hopper, para não ficar só nos desenhos de caracóis. Comprar o livro de Mariana Roquette Pinto – Caixa Preta (indicação da amiga Anne Marie). Mas como o gol final, uma partida de futebol no Maracanã também deve deixar a torcida estrangeira em polvorosa. E esses gringos vão delirar!

Mas tem-se que dançar! Falaram-me das festas. Coreografia primeiro: O Vidigal – para o Funk e para Madureira – para a dança do Charme. O passinho? Ou será o contrário! Não fosse pelo meu coração ainda estar cinza, teria me arriscado. Mas ainda é cedo amor….Ao invés, fui ver “Um fim de semana em Paris”, e dei risadas com o amor nos tempos de idade, ou de cólera, ou de re-invenções e mil perdões!

Ah! Mas esse gringo não vai achar nada disso nem em Nova York, nem em Paris, nem em Toquio! A atmosfera das calçadas de Ipanema, só tem lá! Mas se quiser mais , há de se visitar os museus, ir ao Centro, brincar o carnaval nos inúmeros blocos irreverentes, ir a Niterói – pela ponte e de balsa, tomar sorvete sentada ao lado de Drummond e Caymmi. Um chá na confeitaria Colombo, ou uma branquinha na Academia da Cachaça; perambular pelo Saara, admirar as casas do Joá, a Barra – Miami é ali! Eu não fui. Não dessa vez. Fiquei no quarteirão da Argumento, da Pizzaria Guanabara e do Diagonal. O Baixo Leblon, viajando pelos anos 70 e 80. Mas o tempo é hoje e também dei uma espiada no Celeiro – restaurante gourmet que aposta nos grãos e fiapos saborosos.

Senhores turistas de alhures: sei que vão precisar de tempo, muito tempo para se des-encarrilhar pelas belezas extremas desse Rio de Janeiro que, continua lindo. Mais que lindo! E o barquinho vai…e foi!

Aquele Abraço!

Ana Adelaide Peixoto – 10 de junho , 2015


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