Walter Santos

Multimídia e Analista Político.

Geral

Reveillon, estética e povão


01/01/2007

Foto: autor desconhecido.

O formato do Reveillon promovido pela Prefeitura de João Pessoa neste domingo, merece algumas reflexões com vistas a decifrar causas e efeitos para que possamos ter, definitivamente, uma festa de grande apelo popular com satisfação plena – diferentemente do que ontem aconteceu.

A começar pelo mistério danado. que foi na hora H os fogos de artifícios não terem funcionado como prometido – de forma nenhuma. Gerou frustração total com cada um se entre – olhando sem respostas para o que, como organização de forma fria, significa falha mesmo.

Mesmo que haja explicação, nada justifica o grau de frustração notada.

Tem mais: o Governo Ricardo resolveu instituir como forma de animação das grandes manifestações públicas a presença de artistas nacionais sem apelo próximo do modismo. Se é assim, de cara aboliu de vez do caminho contratar artistas com vínculos com o Axé, o Pagode, Sertanejo, Forró de estilo cearense, etc.

Não deixa de ser uma postura político – ideológica, embora para festas do componente telúrico de um Reveillon algumas premissas de questionamento possam e devem existir.

Tomemos por base, o Reveillon de domingo agora: as atrações da noite/madrugada (Zeca Baleiro, Totonho e os Cabra ) bem se enquadram dentro dessa reflexão.

A rigor são grandes nomes da MPB – com ênfase de aparição maior para Zeca, da mesma forma que o paraibano Totonho se apresenta com astro em ascensão, entretanto, sem apelo popular nos últimos tempos seus shows foram esteticamente perfeitos, mas sem grande envolvimento popular. É que as rádios não executam suas músicas, daí o ineditismo em não se conhecer a safra nova do que produzem.

Sejamos justos: haviam, sim, aglomerados de pessoas exaltadas cantando algumas músicas dos artistas, mas a grande maioria – muitos de classes sociais forjadas em outros estilos musicais – queiram mas não sabiam acompanhar o repertório à frente.

Essa questão remete à outra reflexão: está em Areia Dourada (Cabedelo) desde o dia 18 a genialidade musical de Zé Ramalho, que vai cantar no próximo dia 6 no mesmo projeto da Prefeitura e lugar de Tambau. De onde se indaga: não seria mais pertinente exatamente o contrário: com Zé tocando no Reveillon e Zeca/Totonho no próximo dia 6.

Garanto, sem nenhum dote de premunição, que o público iria ao delírio no tamanho que as pessoas buscam num Reveillon por se tratar de festa voltada à festa de mil megatons, bits e agito total, mesmo músicas de reflexão.

O que quero dizer, em síntese, é que o estilo e estética definidos pela Funjope e por Ricardo Coutinho não podem ignorar a grande massa, os que não conseguem ter acesso a Totonho e Zeca por hoje estarem fora da midia, portanto, é preciso compatibilizar componente político e gosto popular.

Isso, antes que algum evento similar bem próximo, bem organizado, “roube” do Busto a afluência da multidão de ontem.

Contradição

Eu mesmo fui um dos que contentei-me inteiramente com Zeca e Totonho, Mas devo reconhecer o que tanto ouvi nos percursos até palco e tendas.

Não que as pessoas tivessem repulsa, mas é que o contexto do show do reveillon estava mais para o próximo dia ou algum evento no Centro Histórico.

Caberia melhor.

Conteúdo

Zeca e Totonho, cada um em sua praia, vivem momentos de muita inquietude e de elaboração rejuvenescida de suas canções.

Zeca, por exemplo, inseriu no repertório músicas reverenciando Sivucan, Vital Farias, Cátia de França e Chico César, além de Totonho chamado ao palco, como poucos fazem.

É um craque esse maranhense.

Liquidificador

Já Totonho não cabe em si de experimentos freqüentes, até inserindo rabeca na parada, mas com base original na estética de uma poética futurista sem perder as raízes do bode em Monteiro ou no mercado da Torre.

De forma clara, resolveu liquidicar tantas formas musicais, tantas tendências que só ele próprio pode ajustar-se nesse perfil neo-MPB, distante até mais próximo da vanguarda atual das pefiferias.

Para Festiival de Música, shows de estética depurada para público cabeça, ele está entre os top.

Desconforto total

A jornalista Ruth Avelino não se contentava em si de tanta revolta pelo fracasso do pipocar dos fogos como estava previsto.

Ela própria passou o final da tarde e inicio da noite vigiando o acervo dos fogos mas, não teve condições de antever o problema que aconteceu no meio da noite.

Última

“Se da minha boca vai/
Se da sua boca venha…”


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