Geral

Repensando Carnaval e Poder


28/03/2018

Foto: autor desconhecido.

Há pelo menos uns cinco anos, e logo depois, quando voltamos a morar definitivo na Paraíba, vimos na qualidade de jornalista e gestor de marketing com trânsito no mundo dos negócios entre Recife, Rio, São Paulo; vimos buscando dialogar com setores ligados ao evento do Carnaval paraibano, no sentido de disponibilizar para tratativas de marketing com que viessem beneficiar tanto a Associação Folia de Rua, bem como seu valoroso evento pré-carnavalesco, e também o chamado Carnaval Tradição. E todo ano escuto a mesma conversa, com resposta dizendo que este ano vamos botar pra frente nosso projeto, vamos fazer um planejamento, etc. e tal. Não passa disso. Já cheguei até cancelar agendamento com diretorias de grandes marcas como Samsung, Caixa, Carrefour, Vitarella, Heineken, Itaipava, Oi, Tim, e outras que investem continuamente em grandes eventos.

Já até chegamos elaborar planos de marketing com extensa programação, evento de apresentação do projeto Folia de Rua, para atrair grandes empresas, valorizar a participação da mídia, requalificar o desfile e toda a sua estrutura, corresponder aos patrocinadores com entrega eficiente e justa, e diversas outras ações estratégicas em busca de resultado e de acordo com as regras de mercado que se seguem nas grandes praças como Pernambuco, Bahia, Rio, São Paulo. Enquanto isso, ficamos a mendigar míseras esmolas que arriscam até nem vir, ou a vontade e humor dos gestores da prefeitura, a quem lamentavelmente, e equivocadamente se destinou submeter a  Associação e os interesses do Carnaval da Capital.

Parágrafo a parte, diante da inexistência de concorrentes e patrocinadores, a Prefeitura joga com a Associação ao bel prazer, destinando quase sempre em cima da hora, pequenos recursos que não alcançam sequer a ordem de um milhão de reais, para evento com demanda de mais de um milhão de foliões e que gera expressivos números na economia, no comércio, e no turismo da cidade. Investimento de menos de um real por pessoa; quando se sabe através de dados que cada real investido, retorna em pelo menos quatro para os cofres públicos através do turismo, comércio, serviços, impostos, etc.

Logo, concluímos que alguma coisa falta para estabelecer um equilíbrio, um indicativo de sustentabilidade, de alinhar os verdadeiros propósitos do que seria promover um Pré Carnaval rico, distinto, e com alegria porque temos potencial para isto, mas infelizmente não tem sido este o quadro que se realiza. Também o Carnaval Tradição e a Liga que sofre caindo a cada ano.

É preciso repensar o Carnaval paraibano, sim. E nesse momento em que está sendo realizado no auditório da API – Associação Paraibana de Imprensa, debater nesse sentido, trazer para a pauta questões pertinentes de sobrevivência, de um novo modelo, uma nova experiência; buscar justamente dizer da necessidade de se inovar, de procurar grandes marcas para investir e incentivar e promover o Carnaval.

Particularmente como diretor de cultura da API e com experiência de grandes eventos em grandes metrópoles, onde atuamos como produtor e captador de recursos de marcas como Unilever, CICA, Atração, Sony e outras, sou capaz de afirmar que não dá mais para ficar marcando passo, ficar nas mãos de uma gestão que não enxerga todo esse potencial que clama por solução.

E aqui deixo um recado para todos os envolvidos, aqueles que desejam um Carnaval melhor para João Pessoa, e até sobreviver sob risco de não acabar. É hora de serenidade, cair na real, dar vez a novos gestores que possam colaborar com novas ideias, e continuar a lutar envidando esforços para sair da embriaguez do poder único e centralizador. Com todo o respeito, precisamos democraticamente reciclar. Sem com isso deixar de fora a colaboração dos veteranos que lá tem suas folhas de serviços prestados.

Vamos promover prévias, lançamentos oficiais para atrair grandes empresas, fortalecer a cultura regional com a presença de nossos artistas de forma destacada. Temos grandes nomes, inclusive nacionais, como Gonzagas, Elba, Renata Arruda, Chico César, Zé Ramalho, Lucy Alves, e os novos que estão chegando à cena como Nathalia Bellar, Madu Ayá, Seu Pereira, Polyana Resende, Mira Maya e tantos outros. Temos uma das mais fortes cenas artísticas e culturais por metro quadrado jamais vista em qualquer outro estado do Brasil. Temos demanda, produto e tudo o mais. Faltam planejamento e decisão de poder.  É isso.

Gil Sabino é jornalista e gestor de marketing.
g.sabino@uol.com.br


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