Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Música

Puxa o fole


08/10/2023

(Foto: Oriel Farias)

 

 

Cresci ouvindo dizer que João Pessoa era a capital brasileira das cantoras. Menininha foi a primeira que eu conheci, mas a lista é extensa. De Glória – a diva -, a Monica, Gracinha, Eleonora e Marlene que souberam honrar essa tradição.

Vocacionadas para a interpretação lírica e popular, essas mulheres se multiplicaram com o tempo, e hoje são centenas de vozes que cantam e encantam a cidade, muitas delas cruzando limites e fronteiras.

Não são Rosas e Amélias, mas são de verdade e cantam muito. De árias a rock, de pop a pagode. Venho acompanhando várias há um certo tempo e acredito no potencial delas para o sucesso.

Como também acredito na nova leva de sanfoneiros – e sanfoneiras – que estão começando a surgir no mercado, não apenas para atender aos trios e grupos de forró, mas também inspirados em lendas desse instrumento como o paraibano Sivuca, o pernambucano Dominguinhos, e, claro, Luiz Gonzaga, o rei do baião, que tinha o maior respeito pelo pai, Januário.

O mesmo respeito que os músicos da nossa cidade tem por um mestre do acordeon, que era admirado por Dominguinhos e que chegou a ser homenageado por Sivuca com uma composição.

E que, com todo esse talento e potencial, nunca gravou um disco sequer, apesar de ter inúmeras composições, dos mais diferentes gêneros, do chorinho à bossa nova, prontas para consumo.

Conheci seu trabalho e a sua musicalidade há algum tempo atrás num bar no bairro da Torre, na época em que estava produzindo o show Canto de Rua, com Dida Fialho e um elenco estelar, onde pontificavam nomes como Glória Vasconcelos e Radegundes Feitosa.

Depois disso, seguimos caminhos diferentes, até surgir numa mesa de café a ideia de tentar resgatar esse acervo, e levar a um número maior de pessoas a vida a obra de Valtinho do Acordeon, assim como fiz com o cronista maior Gonzaga Rodrigues.

E também, mais uma vez, fazer uma homenagem em vida, com todo respeito aos mortos que não canso de rezar por eles. E assim como no Velho e o Rio, ter um Paulinho a meu lado para me guiar nessa empreitada. Que nesse caso, tem a verve e o talento do pai como cantora e instrumentista.

Mulher e mãe entre nove filhos, é dela, Vanessa, a missão, até mesmo por ser policial, de não deixar o samba morrer, no sentido figurado da expressão.

De minha parte, é mais um desafio e a tentativa de contribuir com a arte e a cultura da nossa gente, fazendo valer a sabedoria e a experiência de uma vida.

Gostaria de ter feito o mesmo com Livardo Alves, que me apresentou ao bairro boêmio que inspirou músicos e escritores de sucessivas gerações. O bairro que causava inveja aos demais, como a Mangueira de Cartola com sua sala de recepção.

Mas, vou rezar, de todo o coração, para que essa homenagem se estenda a todos os artistas que por ali passaram ou viveram, e também para toda a gente humilde que me dá vontade de chorar.

O bairro que, a seu modo e pelas mãos de Valtinho, é também uma feira de mangaio e um pedacinho do céu.


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