Geral
“Pra frente Brasil”
11/06/2014
Foto: autor desconhecido.
Acho que é unânime a afirmação de que a música que mais empolgou como hino das Copas do Mundo de Futebol foi “Pra frente Brasil”, em 1970, realizada no México. Resultou de um concurso promovido pelos patrocinadores das transmissões dos jogos, o que acontecia pela primeira vez ao vivo pela TV. Composição de Miguel Gustavo, ainda hoje, a canção é cantada com vibração e entusiasmo nas oportunidades em que os brasileiros se unem para torcerem por sua seleção. Na época, em que foi lançada, o país vivia sob o regime de uma ditadura militar e o governo aproveitou para associar o envolvimento apaixonado pelo futebol, para passar a impressão de uma nação sem diferenças, todos juntos de mãos dadas, como se não vivêssemos um dos mais sombrios períodos de nossa história, com perseguições, torturas e assassinatos por motivações políticas.
“Noventa milhões em ação/Pra frente Brasil/Do meu coração”. Naquele ano nossa população estava em torno de noventa milhões de habitantes. Então a música fazia o chamamento para todos vestirem a camisa verde amarela da nossa seleção e, unidos, torcermos pela conquista do título de tri campeão mundial de futebol, o que viria de fato a acontecer. O sentimento ufanista tomava conta da nação. O “pra frente Brasil” exaltava o clima de otimismo que dominava o espírito de todo brasileiro. O governo procurava servir-se desse entusiasmo nacional para passar a imagem de que ninguém segurava o Brasil, que estaria em pleno desenvolvimento, segundo a propaganda oficial.
“Todos juntos vamos/Pra frente Brasil/Salve a seleção”. O grito de união: “todos juntos vamos”. A ideia era imaginar um país sem que as diferenças sociais, raciais, econômicas, regionais, políticas, pudessem fazer com que deixássemos de ter um só pensamento e uma só motivação: a vitória da seleção ‘canarinha’. A equipe brasileira era saudada como o símbolo do nosso amor pátrio.
“De repente é aquela corrente pra frente/Parece que todo o Brasil deu a mão/Todos ligados na mesma emoção/Tudo é um só coração!”. A paixão nacional pelo futebol faz realmente com que de repente se estabeleça uma corrente pra frente, numa aposta no triunfo, num congraçamento festivo, numa vibração emocionada em que se unem todos os corações. A circunstância do aproveitamento político dos ditadores da época com o envolvimento dos brasileiros na sua paixão esportiva, não dá a ninguém o direito de misturar convicções e interesses político-partidários com essa festa que entusiasticamente promovemos a cada quatro anos. Por outro lado, não há de se compreender a festa como uma alienação política. Tudo tem a hora e o local para acontecer. Durante os jogos devemos torcer fervorosamente por nossa seleção. Passada a euforia do certame, voltarmos a pensar com responsabilidade nos nossos problemas, sempre brigando por dias melhores para o nosso povo e a nossa nação. Uma coisa não prejudica outra. E que possamos este ano comemorar o hexa campeonato.
• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.
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