Cultura

Porque nossos artistas não emplacam sucesso?


16/02/2020

Bloco de Alceu Valença e Elba Ramalho, no pré Carnaval do Ibirapuera, SP, e a multidão no Folia de Rua, João Pessoa, durante o desfile da banda Aza, para o Bloco dos Atletas. (Foto: Ilustrativa)

O mundo artístico há muito vem revelando sua vocação para caminhar lado a lado com o mundo dos negócios. Assim tem sido nas artes plásticas (com exposições e venda de quadros, portais, santuários, etc.), no cinema (o anúncio do Oscar, e seus bilhões de dólares investidos nas produções de grandes filmes e festivais), na literatura com Feiras espalhadas por diversos lugares do mundo, no teatro com grandes festivais, e como não poderia deixar de ser, na música que, diga-se de passagem, está em todos os lugares.

Estamos na semana pré Carnaval, esse evento da carne que movimenta bilhões. Basta levantar os números do turismo, as receitas das cervejarias, hotéis, bares, restaurantes, transporte, comércio, e outros seguimentos. Se lançarmos olhar mais próximo ao mundo empresarial, dos produtores de artistas da música, teremos os ricos escritórios dos trios elétricos da Bahia, Pernambuco, e agora Rio de Janeiro e São Paulo. Mas, voltando o olhar para a nossa terrinha, fica ainda a velha pergunta: Porque nossos artistas não emplacam, e poucos são convidados a subir nos trios elétricos que desfilam na programação do Folia de Rua?

Tivemos oportunidade, há anos, de acompanhar a trajetória inicial de nomes como o Chiclete com Banana, Asa de Águia, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Banda Mel, Olodum, Muzenza, Carlinhos Brown, e outros, notadamente baianos; bem como, em Pernambuco, o indizível crescimento do Galo da Madrugada, maior bloco do mundo de arrasto de foliões, segundo o Guiness Book. Verdadeiras indústrias de arte, cultura e lazer.

Em seguida, fomos assistir de perto como brotava o sucesso a partir de negócios fechados junto à mídia, sim, para promoção através das televisões, rádio principalmente, e outros veículos. Foram fechados valores para tocar no rádio, o que se chamava de jabá (dinheiro entregue por baixo do pano), o que hoje é compreendido como sendo verba promocional dentro das receitas e investimentos destinados à promoção dos artistas. Cada gravadora e cada artista pagava às rádios para tocar maciçamente suas chamadas `músicas de trabalho´. Isso, transformado em sucesso, gera contratos de apresentações em trios e eventos espalhados por todo o Brasil, e o resultado é um retorno inimaginável de contar.

Seguido a isso, as grandes empresas de bebidas, bancos, planos de saúde, moda, beleza, e outras, associam o patrocínios aos artistas e grandes eventos para atingir seu público alvo.

Muito simples. Como se costuma prenunciar, dinheiro chama dinheiro, investimento indica retorno. Os artistas da alegre e rítmica música baiana despertaram cedo para desenvolver um modelo de negócio que atraísse grandes públicos, grandes massas e multidões, e hoje gozam os louros desse investimento. Enquanto o Rio de Janeiro e São Paulo comandavam, e ainda comandam a grande mídia nacional, os nossos valores regionais, ainda deixados de lado, foram submetidos ao sabor e gosto do que era gerado e produzido nesse eixo do sudeste do país.

Quando os novos cantores e bandas de forró vieram despertar para o modelo de negócio do toma lá, toca pra fazer sucesso; era já um pouco tarde, visto que a grade de programação da mídia nacional havia fechado com os grupos de pagode, sertanejos e baianos. Sim, são estes grupos, e atualmente as bandas do chamado forró de plástico (embalagem que sugere beber até cair, a traição fácil aos amores, sexo, e muito mais…), que dominam a cena nacional, impactando o que ignorantemente chamam do gosto do povo. Na verdade, há por trás de tudo isso, uma imposição do mercado capital para sobrevivência do mundo artístico empresarial de baixa qualidade.

Não adianta protestar. O artista que quiser emplacar vai ter que se virar e investir para tocar no rádio, na TV, e abrir caminhos. Eis aí, um breve relato de como funciona a coisa em torno da indústria do sucesso. E a resposta do porque nossos artistas não emplacam e ficam apenas na plateia aplaudindo os baianos e sertanejos ou, certos nojos, desfilarem para atender o que alguns acreditam ser o tal gosto do povo. Já seria hora das gestões de cultura acenar para realmente promover um pouco do nosso elenco de artistas e colocar estes num lugar de destaque. Talvez aí, com projetos especiais, valorizem seus trabalhos e possam emplacar sucesso.


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