No afamado Diário da Manhã, na segunda seção, em Recife, a edição de quarta-feira, 2 de Abril de 1930, o trecho de aber-tura traz em destaque Peryllo Doliveira:

“Peryllo Doliveira é o maior poeta de uma terra que tem dado grandes poetas, como a Parahyba”.

Nas diferentes phases do seu lirismo, todos profundamente sentidos, profundamente huma-nos, há o emotivo amoroso (Canções que a vida me ensinou”) o emotivo pantheístico, fundindo na sua tortura interior a tortura da terra flage-lada (Caminho cheio de sol”) e, por fim, o emo-tivo simples, de uma singeleza pastoril, na lin-guagem e nos motivos, que lembra um Tagore falando o dialecto e sentido a vida destas terras do Nordeste…

Essa última phase, ainda inédita, define -a, melhor que qualquer falso crítico, o ingênuo é poema, que faz o encante a graça dessa página. É de “A voz da terra”, que o poeta promete para breve:

Felicidade do poema “A voz da terra”

É tão bom não saber nada!

Só saber ignorar

E trabalhar e comer e dormir

Não ir além do povoado

Pensar que o Acre é a terra mais longe do mundo

Em outubro ou novembro

Por na mala o dinheiro apurado

Com fumo e algodão

Em dezembro fazer um roçado

Nas lombadas das serras do brejo onde a Secca não chega

Planta-lo de milho, mandioca

Feijão e legumes

P’ra no inverno comer gerimú”

Machucado com leite…

Trabalhar na semana

E aos domingos enfiar pelo matto

Caçar juritys

E tirar mel de abelha nos ocos dos paus

Ao meio-dia dormir numa rêde cearense

Na fresca do alpendre

E nas noites de luar

Cantar na viola, baixinho

Ao lado de alguém se que ama

Os versos sentidos

Que um bom coração

Sempre tem pr’a cantar.

E pensar que toda essa felicidade Já esteve tão pertinho de minha mão.

PERYLLO DOLIVEIRA

O poema “A voz da terra” veio à estampa sob a forma de livro pouco tempo depois, enaltecendo o sentimento de paraibanidade já o consagrando como o maior poeta de seu tempo. Como antecipava o prestigiado Correio da Manhã.