Alexandre Luna Freire

Desembargador federal

Cultura

Peryllo Doliveira


06/01/2025

Estava assumindo a decisão de tecer uma crônica sobre um dos primeiros escritos de Peryllo Doliveira, com “dois eles”, subtitulado “Poesia de Peryllo Doliveira”, preciosa ilustração na capa, parcialmente colorida na cor verde. A cromaticidade ainda combina com a ilustração e com o papel esmaecido, decorrido o longo tempo, próximo ao centenário (1928) quando foi lançado, na então Parahyba do Norte.

Começando o desvelo pela ilustração, a qual presumi ter sido do próprio Peryllo, em sua grandeza e simplicidade, multifacetado autodidata, pobre de origem, para colocar-se no panteão dos grandes poetas parahybanos e paraibanos. Restaria ser investigado seu percurso bibliográfico, inclusive nas ilustrações da grande e lépida atividade na Revista Era Nova.

Segundo a respeitável contracapa notícia a publicação: “Deshonesta” (segundo referência na web), uma novela publicada em 1924 e “Canções que a vida me ensinou” (poemas), em 1925. Enquanto não tive acesso a nova novela, a esperança afigura-se à frente; já as pequenas publicações, divulgações em periódicos, parece-me que foram transformadas em uma versão e lançadas em revista à publicação corrente antiga em formato de livro. Para despertar o fervor da documentação, se houve ilustração ou alguma explicação ou prefácio. Nesse aspecto, o autor merece descobertas. A curiosidade prossegue com o desvendamento do destino de outra novela anunciada: “O Desvio”, em 1925. Para cujo centenário, fica em aberto, o esforço literário. Talvez o estorno de uma pesquisa mais que rarefeita.

Detive-me, por alguns dias em frugais olhares sobre a edição, numa década onde a economia do estado claudicava. A década iniciava-se sob diretriz de um professor a custeio da coluna em ensaio. Literatura revelava alguns nomes a projetar-se em nome da inspiração mais pulsátil. Alguns nuances inscritos no jornal e a “Era Nova”, projetaram-se mais tarde a ensaios seguintes. Peryllo Doliveira, silencioso em parte, emerge do arcabouço literário quando passamos a folhear mais e intensamente o seu legado.

Esse segundo exemplar, ao qual tive acesso, merece ainda algumas considerações. Calha a obrigatoriedade de reproduzir parte da dedicatória: “À festejada declamadora Marina de Pádua como homenagem aos seus talentos” oferece abreviado, “Peryllo Doliveira, Parahyba – Julho 1928”. A caligrafia ainda bem legível traduz o exemplar, a vir de acervo, sob gentileza empresta a João Lelis, autor de um raro ensaio publicado em 1945, em edição limitada a 100 exemplares, sobre quem vira a ser seu Patrono na Academia Paraibana de Letras.

O exemplar, aqui em comento, no escopo de documentação literária apresenta particularidades. Assim que observa a boa menção do autor, assegurada aos já assinados pages. Alguns, abarcando algumas singularidades com Adhemar Sanches e Sézer, escritor e tipógrafo desse tempo, dentre tantos mestres e impressões, que abrem o itinerário a adoção, da Casa do Estudante, ali, outrora, em combinações gráficas e incipiências nas linhas do texto. O opúsculo, ainda, enquadra-se numa referência perfunctória de importância dada pelo nosso escorregadio peno à expectativa da defesa. Ainda estão esperando abertura de páginas. “Os Caminhos cheios de Sol” não foram esquecidos e há outras considerações pertinentes à literatura paraibana e ao livro.


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