Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Cultura

Paixão e fé


06/04/2023

De um modo geral , o cinema foi a grande influência da minha infância e mais ainda da adolescência.

Fosse no faroeste das matinais de domingo ou nos musicais dos anos dourados de Hollywood, eu embarcava semanalmente em viagens de múltiplas aventuras e emoção.

Era o tempo da bela Hayley Mills, meu primeiro amor discreto de uma só pessoa.

Loura e linda, a atriz inglesa havia protagonizado o filme Pollyanna e fazia parte dos sonhos e desejos de muitos adolescentes como eu.

E foi também o tempo em que as salas exibiam toda sexta-feira santa o filme A paixão de Cristo, um clássico de sua época, totalmente rodado em preto e branco.

Produzido antes de outros clássicos do gênero, como Ben Hur e Os dez Mandamentos, o filme que mostrava o martírio, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo era um retrato fiel do seu tempo, com pouca técnica e muita emoção e, talvez por isso mesmo, costumava levar a plateia às lágrimas.

Na tela, em pouco mais de uma hora, um elenco mediano se esforçava para ser convincente naquela que é vista como a maior história de todos os tempos.

Não sei ao certo, quando deixou de ser exibido no cine Plaza toda sexta feira santa, mas a primeira nova versão que eu consigo lembrar é Jesus de Nazaré, e isso já foi em 1977.

O certo é que, com o passar do tempo, muita coisa aconteceu, e a visão ingênua dos tempos idos , deu lugar a uma releitura dessa história milenar.

E foi assim que surgiram filmes polêmicos como O Evangelho segundo São Mateus, de Píer Paolo Pasolini, e A Paixão de Cristo, de Mel Gibson.

Nada que substituísse, porém, o êxtase da assistência ante aquele filme em branco e preto que contava a mesma história tantas vezes lida e repetida, sem tirar nem por.

Mas, tudo isso foi no tempo da investida da indústria cinematográfica na família e na religião.

Um tempo, até certo ponto obscuro, onde filmes como Marcelino, pão e vinho e A noviça rebelde encantaram plateias do mundo inteiro.

Mas, como disse Renato Russo, nem por isso foi tempo perdido. Até mesmo porque, no escurinho do cinema, tinha Hayley Mills, princesa do meu tempo, para ver e um Deus para acreditar.


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