Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Pai & Filha


27/07/2010

Foto: autor desconhecido.

 Que Marravilha não deve ser o fato de se ser filha de Olivier Anquier (ex-marido de Débora Bloch) e pai de Julia. Assistindo seu programa de gastronomia da “Sua França”, vejo que as suas receitas incluíram a presença de Júlia, durante as 6 semanas viajando de moto pelos lugarejos, mercados, castelos e receitas francesas. Como sou fã de Débora Bloch há anos, acompanhei seu casamento, gravidez, carreira, lembro da Júlia com seus cabelos naturalmente encaracolados desde pequenina. Agora, uma moçinha com corte à la garçon e vaidosa daquele pai, que prova os quitutes e dá sorrisos para à câmera. Que delícia de experiência, provar de coisas tão sui gêneris, que um pai talentoso, francês, e gourmet pode proporcionar à sua filha curiosa. Fiquei com inveja dos tartar de abacate com camarão; das batatas batidas; das crostas de ervas finas; dos goles de vinhos franceses, bien sur! E fiquei pensando o que experiências desse tipo são ricas para o futuro das filhas, seja interferindo em suas escolhas profissionais (não necessariamente que Júlia vá seguir à gastronomia), mas com certeza será uma apreciadora de comidas, de vinhos, de viagens, e principalmente das aventuras culturais.

Fiquei a observar também o orgulho dessa filha pelo seu pai. Viajando na sua garupa, de jaqueta de couro, com aquele homão lindo e sedutor que é o Olivier, e que implicações Édipo/Electra, essas imagens não agem no inconsciente das meninas. Meninas que adooooram seus papais. Falo em amor de filha claro! Mas fiquei a matutar o contraponto, através das dificuldades das relações tensas entre mãe e filha.

Saindo da Provence Francesa diretamente para o Shopping Manaíra, onde vejo outro pai, não tão famoso lá, mas uma autoridade cá, abraçado com sua filha jovem de 18 anos, shortinho, tenizinho, cabelos longos, piercing no nariz, passeando pelas lojas. De longe pude sentir o igual orgulho e vaidade dessa filha, abraçada com esse pai, pelas ruas do consumo, e igualmente o desse pai, abraçado com essa ninfeta, dando-lhe o privilégio de vivenciar essa relação autorizada de uma relação amorosa.

As filhas estão quase sempre suspirando pelos seus pais. E as mães? Quase sempre raivosas com as suas filhas. A competição e toda a jornada noite adentro dos complexos de electra/édipo, disputa pelo mesmo homem (o pai), e tantas coisas Freudianas ou não, dificultam-nos à transitar de bem com as mães, e facilitam-nos ao amor do Pai. Mais amor? Talvez não, mas com certeza mais leveza, pois na grande maioria, a busca inconsciente pelo amor do oposto faz das filhas percorrerem o caminho do aceite e do desejo. Assuntos para muita terapias e psicanálises, mas que no cotidiano nos fragiliza e nos faz pensar. Muito. Filhos gostam de andar com seus iguais, seus pais; falar de futebol e de assuntos de homens. Filhas gostam de desfilar com seus pais, seus diferentes; talvez menos assuntos, mas compensados pelo orgulho de estar com o sexo oposto. E com as mães? Tudo tão mais difícil!, que não tem tartar de lagosta que minimize as rusgas, ou nos faça saborear às doçuras dos afetos proibidos.

E nesse final de julho, e nem tão de férias assim, chorei à morte do filho de Cissa Guimarães, que pelas fotos na Net, se abraçava com aquela mãe saltitante, e pareceu-me gostar de também estar abraçado àquela mãe tão alegre e que agora se vê despedaçada. E com os túneis sujos de sangue, ficamos sem ver a luz no final deles. E de contravenções, propinas, e crimes, ficamos sempre mais frágeis e pobres.

Às vésperas do dia dos pais, fiquei com saudades do meu, usufruindo a chuva que cai, o friozinho que até que enfim deu o ar da graça, e abri um vinho tinto para celebrar esses parcos dias cinzas e aconchegantes. Viajando com Olivier pelos recantos dos queijos Brie, e beliscando um queijinho de Coalho aqui e um gorgonzola acolá.

Feliz Dia dos Pais antecipado, de filhas & filhos

Ana Adelaide Peixoto, João Pessoa, 26 de julho de 2010


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