Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Os inocentes úteis


15/04/2017

Foto: autor desconhecido.

 

Eles sempre existiram, mas parecem multiplicados na sociedade contemporânea. Os inocentes úteis são como esponjas vivas absorvendo tudo o que lhes é oferecido. São carentes de imaginação construtiva e desprezam o exercício da consciência crítica. Preferem ser conduzidos por lideranças com discursos de falso moralismo, vítimas de uma manipulação social determinada pelos grandes veículos de comunicação a serviço dos poderosos (sistema financeiro, oligarquias, elite dominante).

Os inocentes úteis defendem ardorosamente causas que, muitas vezes, contrariam seus próprios interesses. Mas estão anestesiados pela propaganda que induz um pensamento que lhes levam a menosprezar a busca da verdade. Como integrantes de um rebanho, são guiados na conformidade do que os manipuladores desejam. Acreditam piamente que o que for bom para os patrões será bom para eles. Até porque se enganam pensando que também são patrões. Para eles a realidade é a que está noticiada na grande mídia. Nunca se dão ao trabalho de questionar as informações recebidas, nem se prestam ao exercício do contraditório.

A histeria coletiva provocada pelos inocentes úteis faz explodir o ódio, a agressividade, o medo, o preconceito, a repulsa. Quando o emocional está atingido por esses sentimentos, desaparecem as oportunidades do raciocínio isento de paixões. Passam a ser orientados pelo “canto da sereia” que lhes fizeram estrategicamente ouvir. Assumem posturas travestidas de dignidade, justiça, com a convicção de que estão ao lado do bem.
Importante reconhecer que, na sua maioria, não são pessoas más. Digamos que são ingênuas. Não conseguem enxergar que estão sendo utilizados como massa de manobra. Suas bandeiras de luta, no fundo, nascem de um amor cívico, embora equivocadas. Não por culpa deles, mas dos que são experientes na arte de manipular consciências.

O grande problema é que essa absorção das ideias que passam a defender, os tornam raivosos, impacientes para o bom debate, provocadores, hostis. Chegam ao ponto de entrarem em litígio com parentes e velhos amigos. É como se estivessem sob os efeitos de uma anestesia que os impedisse de comportarem-se com equilibrio racional. Não os critico, só lamento que não compreendam estarem numa luta contra si mesmos.

 

 

 


 


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