Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Sociedade

Os Indigentes Intelectuais


22/04/2025

Ignorar as evidências é, antes de tudo, uma atitude de indigência intelectual. Diante de argumentos sólidos, rever os próprios conceitos é um exercício de aprendizado. Mudar de opinião representa, nesses casos, um processo de evolução pessoal.

Fico impressionado com o fato de que o comportamento humano tem optado pela burrice voluntária. Tornar-se ignorante por vontade própria é algo que beira à estupidez. Decidir, espontaneamente, pela perda da capacidade de pensar é assumir o espírito de “manada”. O filósofo Sêneca dizia: “Nada é pior do que nos acomodarmos ao clamor da maioria, convencidos de que o melhor é aquilo a que todos se submetem”, deixando que os outros pensem por nós.

Essa indigência intelectual, por mais surpreendente que possa parecer, induz a comportamentos que fogem à racionalidade, tais como rezar para pneus, colocar o celular sobre a cabeça para pedir ajuda aos ETs, acreditar — sem questionar — em informações perceptivelmente inverídicas.

O medo de parecer “diferente” faz com que o indivíduo fique condicionado a agir como se fizesse parte de um “rebanho”. O senso comum da manada indica os caminhos a serem percorridos, fazendo-o perder a identidade e deixando de reconhecer o próprio valor. Decisões são tomadas sem que passem, necessariamente, por uma reflexão individual.

O exército virtual das fake news contribui para a construção dessa indigência intelectual: um estado de carência absoluta de fundamentos amparados na lógica e na sensatez, e uma flagrante incapacidade de análise da realidade em que se vive. Não devemos considerar os indigentes intelectuais como seres inofensivos. Eles estigmatizam a luta política que se faz necessária para que sejam aceitas como normais a covardia e a ilegalidade.

Os indigentes intelectuais, acomodados em seus cativeiros, passivamente aguardam ser encaminhados ao matadouro, acreditando que seus condutores são emissários divinos. Não podemos basear nossas vidas em mitos e fantasias, negando nosso poder de raciocínio ou entorpecendo nosso senso crítico. O farol do conhecimento precisa ser aceso para enfrentar os obscurantistas — os que decidiram viver com o cérebro em “off”. Estabeleçamos os meios necessários para que possamos fazer uso do livre-arbítrio de forma consciente, responsável e fraterna.


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