Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Os incômodos do tempo chuvoso


29/05/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Não sei se hoje ainda é assim, mas no meu tempo de criança adorávamos tomar banho de chuva. Talvez pelo fato de sermos sertanejos e quando chovia encontrávamos motivos para festejarmos. O cheiro de terra molhada me traz agradáveis recordações.

Entretanto, não era das mais cômodas nossa vida no período chuvoso nas décadas de sessenta e setenta. As ruas do nosso bairro, Jaguaribe, eram quase todas sem calçamento, no chão batido. Naquela época, ao que me parece, chovia muito mais do que atualmente. Tínhamos vários dias de precipitação pluviométrica, sem que tivéssemos oportunidade de ver o sol.

Isso fazia com que a minha rua, a Sérgio Dantas, fosse tomada por uma grande poça de lama, dificultando o acesso às nossas casas. Caminhávamos por sobre uma trilha formada de pedras e troncos de madeira para evitar que mergulhássemos nossos pés no lamaçal. Ao sairmos era indispensável o uso de capas, guarda-chuva e galocha.

Usar o transporte coletivo da época, o bonde elétrico, chegava a ser um risco, pois de vez em quando éramos surpreendidos pelo desconforto de alguns choques. Nas noites os trovões e relâmpagos assustavam. Isso sem falar nas goteiras no telhado que atormentavam nossos pais. Eram, portanto, as inconveniências do período de chuvas.

A gente ficava sem entender porque tanta chuva na capital e a seca massacrando nossos conterrâneos do interior. Pior que não havia previsões meteorológicas, tudo era na base da surpresa, do inesperado. Nunca sabíamos quanto tempo ia demorar o período chuvoso.

Lembro-me do quanto era sacrificante acompanhar minha mãe à feira nos dias de chuva. Segurar o guarda chuva com uma mão e na outra carregar uma sacola pesada com o que adquiríamos no mercado livre.

Recordar esses transtornos me deixa nostálgico. Nem sempre só o que foi prazeroso na vida nos leva a sentir saudades; vivemos essa sensação também quando nos lembramos do que exigiu da gente sacrifícios, mas que nos ofereceram aprendizado na convivência com dificuldades circunstanciais.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.

 


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