Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Sociedade

Oito ou oitenta


21/10/2023

Grandfather and grandson play lying on grass, aerial view

 

 

Muito tem se falado da inteligência artificial e do que ela representa para a evolução da humanidade, mas o fato é que ela e o avanço da ciência, estão fazendo com que as pessoas vivam mais e melhor.

Um passo extraordinário e impossível de imaginar num tempo tão distante assim, quando pessoas com mais de cinquenta anos vestiam o pijama da aposentadoria, isso quando ainda existiam pijamas, um item totalmente fora de moda.

E digo isso às vésperas de mais um show de Roberto Carlos por aqui, no alto de seus oitenta e poucos anos muito bem vividos e de uma bagagem invejável de canções que embalaram os sonhos de várias gerações.

E ele não está só nesse caminho sem volta. Como ele, grandes nomes da nossa música continuam se apresentando no país e pelo mundo a fora, e muitos deles até arriscam uma dancinha no palco, como Caetano Veloso e Ney Matogrosso, esse último um gigante em cena com suas coreografias espetaculares.

O mesmo acontece no outro lado do oceano de Djavan, onde Paul McCartney, que um dia pensou em parar aos 64, continua aos 80 se apresentando em shows com até três horas de duração, ao mesmo tempo que os Rolling Stones, sempre eles, acabam de lançar um disco de inéditas da melhor qualidade.

É o que se pode chamar de admirável mundo novo e um salto sem precedentes na história, escrito com muito empenho e dedicação e responsável por mudar a lei natural das coisas e da vida.

Há quem aposte, inclusive, que em poucas décadas essa expectativa bata na casa dos cem anos, fazendo de Matusalém uma referência e um exemplo de sanidade física e mental a ser seguido.

E tudo sem o estigma de ser um vampiro, que se alimenta de sangue ou um zumbi que devora os seus, num universo fantasioso presente em filmes e séries de terror como The Walking Dead e The Last of Us.

Uma nova realidade que vai fazer do tio da Sukita um jovem ancião e dos sessentões, uma gente cheia de vida e com muitos sonhos para realizar.

Um novo tempo, de muitas intervenções e cosméticos, de poucas rugas e varizes, mas também de muita concorrência e muito pouco amor.

E também de muita fome e guerras para controlar o crescimento da população, como sempre aconteceu em menor escala no tempo em que se vivia menos. Lembro desse tempo e não tenho saudade dele.

Uma época em que as pessoas eram resignadas com a sua morte, e eram privadas de viver, justamente no momento de maior sabedoria e experiência acumuladas através dos anos de acertos e erros.

Talvez por isso, os que ticavam não choravam tanto pelos que partiam, conformados com os desígnios do destino, que um dia, não se sabe quando, terminaria por bater na porta de todos, indistintamente.

Uma pena que minha mãe e meu irmão, já falecidos, não viveram para ver esse novo tempo, idealizado por Ivan Lins em uma de suas canções, e que é quase um hino de um mundo mais justo e melhor para todos.

De minha parte, eu assisto essas maravilhas como o aprendiz que eu sempre fui, e que um dia aprendeu com Gabriel Garcia Márquez, e os seus cem anos de solidão, que o o amor não tem idade e sobrevive mesmo em tempos de cólera.


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