Cinema
O rio continua lindo
29/07/2023
Foi quase um ano de muita luta e desafios, até a conclusão de O Velho e o Rio, o curta que homenageia a cidade de João Pessoa pela ótica do seu mais importante cronista.
No caminho tortuoso perdi alguns cabelos, que ficaram ainda mais brancos, e um grande amigo, o poeta Juca Pontes, a quem dedico o trabalho.
Foi ele o maior incentivador do projeto e também o maior divulgador, abrindo portas com seu abraço carinhoso e fraternal para a sua realização.
De modo que devo a ele e a alguns bons amigos, que conheci no decorrer das gravações, a versão final desse registro lírico que será exibido na TV aberta.
Ali estão a Lagoa e o Ponto de Cem Réis, visitados e revistos pelo mais longevo e importante frequentador, e também os rios, onde tudo começou.
São eles que conduzem a narrativa do homem, que aos noventa anos, encontra fôlego para mergulhar de cabeça no seu passado e para escrever a mais importante crônica sobre a cidade que lhe adotou.
Com certeza, essa curta convivência sempre vai andar comigo, assim como anda com ele o sítio de Alagoa Nova, município onde nasceu e viveu a mais tenra infância.
Saudosista por natureza, conduziu toda a equipe através de um túnel do tempo, para a João Pessoa das suas primeiras crônicas.
Um tempo de pura poesia e de romantismo clássico. De beijos roubados e lenços de seda, e também de declarações de amor.
Nesse contexto, ele pode ser visto como o último romântico, que já viveu muito, nas suas próprias palavras, e por isso tem poucos amigos ou quase nenhum.
Mas, que continua valorizando a vida e tem profundo respeito pela religiosidade. O Deus sem forma e sem rosto que também anda com ele, assim como o sítio do engenho onde nasceu.
E que reservou para ele, um fiel tradutor dos seus ensinamentos, essa homenagem em vida que um grupo de amigos e admiradores produziram para ele, em respeito a sua imensa sabedoria e bondade.
Nesse sentido, é comovente a homenagem que faz a Augusto dos Anjos, na cena em que toma chá na academia com Amanda Falcão, que vive a booktuber Lígia Telles no filme.
Em corpo e alma é tipo um encontro do poeta – o maior de todos – com o cronista.
O poeta do Eu com o escritor de todos.
E, mais uma vez, eu estava lá.
Viva Gonzaga Rodrigues.
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