Nem sempre a maioria tem razão, mas respeitá-la, quando ela se manifesta numa eleição, é uma atitude democrática. Mesmo quando ela é resultante muito mais de sentidos emocionais do que lógicos. Quem assim não se comporta é porque não tem apreço à democracia. Os americanos decidiram sobre o futuro deles. Então que arquem com as consequências. Sim, isso terá influência aqui, dando ânimo à extrema-direita que saiu derrotada nas eleições municipais. Mas não vejo grandes preocupações quanto a isso. As circunstâncias aqui têm se mostrado diferentes. O ídolo da extrema-direita está inelegível e deve ser condenado pelis crimes que cometeu, diferentemente do líder maior deles.

Tem um aforismo bastante conhecido que diz: “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. A aparente irracionalidade em manifestações coletivas não pode impedir a convivência harmônica entre diferentes e o respeito à diversidade de interesses, nem a coexistência de rotas alternativas que viabilizem a sobrevivência de pensamentos dissidentes eticamente defensáveis.

Ainda que, democraticamente, ouçamos a voz da maioria, ela não deve influenciar a nossa escolha pessoal, a menos que nos falte qualquer resquício de consciência e de integridade. É preciso, portanto, prudência, paciência, tolerância e perseverança para resistimos com responsabilidade e respeito democrático ao que não estamos de acordo e que possamos, então, contribuir para a consolidação de uma nova maioria, formada por meio do exercício racional da argumentação.

Levar em consideração a voz do povo significa prestar atenção aos sinais de fumaça das manifestações coletivas. É inaceitável ignorá-las por arrogância ou leniência, mas não nos é permitido nunca abdicar do exame de consciência. E assim caminha a humanidade. Saibamos tirar lições de cada evento, principalmente quando resultantes de vontade coletiva, mesmo que contrariem a nossa. Todavia, sejamos suficientemente responsáveis para fazer valer a nossa percepção das coisas e atuarmos em favor do que entendemos ser o caminho racional em benefício de todos.