Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

O problema é a política(gem)


17/06/2016

Foto: autor desconhecido.

A situação do Brasil, no início de 2015, era de baixa recessão econômica e forte desequilíbrio fiscal-monetário. A solução não era tão difícil, se adotadas as ações exigidas dos Poderes Executivo e Legislativo. Os entraves políticos impediram que isso ocorresse. A sociedade passou a pagar o preço crescente da sua miséria política.

Passamos a sofrer os efeitos do auge da degradação político-partidária. Havia e há muita coisa a ser passada a limpo. Os principais partidos e líderes políticos enfrentam problemas com a Operação Lava Jato. A substituição da presidente Dilma por Temer sintetiza a luta pelo poder para tentar pautar as ações corretivas da Justiça.

É evidente que grandes líderes políticos e dirigentes do país estão mais preocupados com os seus problemas judiciais. Os problemas sociais, econômicos e financeiros nacionais foram negligenciados e assumiram proporções assustadoras. Isso se deve muito aos antagonismos político-partidários e entre o governo e o Congresso.

O mundo político brasileiro, com raras exceções, tornou-se um imenso mar de vícios sem espaço relevante para a virtude. Há uma espécie de salve-se quem puder, e haja delação, traição, denúncia de corrupção, inquéritos, vazamento de sigilos, julgamentos e prisões. A politicagem e seus adeptos, que tanto mal fazem ao país, agonizam sob as forças legais coercitivas do Poder Judiciário.

De janeiro/15 a maio/16 tivemos a primeira fase da tentativa de recuperação moral e ética da política nacional. O grande esforço concentrou-se no governo de Dilma Rousseff, seus ministros, o PT e seus parlamentares e líderes políticos. Houve muitas sentenças, prisões e até o afastamento da presidente em processo de impeachment.

A segunda fase dessa pretensa regeneração política volta-se aos partidos e lideranças que, no exercício da falsa moral, procuraram desmascarar o PT e seu governo. O foco agora está em políticos de peso que criaram o governo provisório de Michel Temer. Ocorre que estes venderam e compraram a ilusão de que ficariam imunes à Operação Lava Jato, mesmo tendo contra si pesadas denúncias e delações.

O governo Temer tende a aumentar a sua fragilidade sociopolítica congênita. Primeiro porque optou por um programa econômico superneoliberal. Há excessos na redução de direitos trabalhistas e de recursos para educação e saúde, e imprudência na apressada reforma da previdência. Depois porque não há como atender as expectativas de encerramento da Lava Jato ou limitação da sua capacidade de ação.

As propostas neoliberais do governo Temer, muito além da conta, tendem a piorar a sua baixa popularidade. Os expoentes de sua base política na Câmara e no Senado vão cobrar muita reciprocidade para manter o apoio. Esse apoio será precário e instável, se o presidente Temer não garantir êxito aos aliados na luta contra a Lava Jato.

O grande impasse brasileiro continua sendo de natureza política. A economia já dá sinais de recuperação, mesmo com a paralisia do governo, nos últimos 16 meses. A regeneração do sistema político não está à vista. O presidente Temer terá sérias dificuldades para fazer o ajuste fiscal e promover a volta do desenvolvimento. Resta esperar que a miséria política não impeça a retomada natural da expansão econômica.


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