Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O primeiro livro de meu pai


15/09/2015

Foto: autor desconhecido.

 

O lançamento do primeiro livro é para o escritor algo como viver a emoção de ver nascer o primeiro filho. É a realização de um sonho, a concretização de um desejo alimentado, a sensação emocionante de ver seu trabalho literário impresso. Participei desse momento de grande importância na vida do meu pai.

Autodidata, dedicou parte da sua existência à pesquisa. Adorava garimpar informações nas coleções de jornais antigos, nos arquivos de cartórios, conversar com pessoas que pudessem lhe transmitir dados que registrava na memória e dos quais fazia anotações que subsidiavam suas futuras publicações. Era um apaixonado pela genealogia, a heráldica e a história.

Em novembro de 1977 pude testemunhar a felicidade que experimentou ao ter seu primeiro livro publicado: “BACHARÉIS PARAIBANOS PELA FACULDADE DE OLINDA – 1832/1853”. O evento aconteceu no Salão Nobre do Palácio da Redenção, por iniciativa do então Secretário de Educação do Estado, professor Tarcisio Burity, integrando a política editorial do governo. Fez parte da programação comemorativa do sesquicentenário da criação dos cursos jurídicos no Brasil.

A solenidade contou com a presença das mais ilustres personalidades do mundo cultural, jurídico e político do nosso Estado, além de amigos e familiares. O primeiro a discursar foi Tarcísio Burity, que manifestou o quanto ficou impressionado ao ver “um homem de muitas ocupações, encontrar tempo para pesquisar e escrever, entregando aos paraibanos, uma obra de profundo conteúdo e valor histórico”. O secretário destacou ainda “o esforço do governo em ir buscar esses pesquisadores da nossa história, responsáveis por documentarem acontecimentos importantes da vida nacional, pois o homem só crescerá em relação à consciência humana, enquanto for fiel à sua história”. Em seguida usou da palavra o Desembargador Aurélio de Albuquerque, de quem meu pai recebeu apoio importante para a edição do livro.

Naquela oportunidade surgia efetivamente o escritor Deusdedit Leitão, deixando em vida uma produção bibliográfica com quatorze livros publicados. Em reconhecimento ao seu trabalho intelectual foi eleito para o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e a Academia Paraibana de Letras, entidades as quais também teve a honra de presidir.

Quando me vejo igualmente trilhando esse caminho na literatura, procuro me inspirar na sua forma inteligente de escrever, e dele, com certeza, herdei a vocação para a pesquisa e a história. Seu exemplo me encoraja a seguir em frente nesse mister e me faz imaginar o quanto ele possa estar feliz, onde quer que esteja hoje, ao verificar essa minha tentativa em caminhar os passos que trilhou durante sua vida terrena. Sei que ele está comigo nos instantes em que me disponho a escrever minhas crônicas e meus textos.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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