Walter Santos

Multimídia e Analista Político.

Geral

O novo Timing de um Guerrilheiro genial apaixonado


17/10/2015

Foto: autor desconhecido.

{arquivo}Desde quando conheci Chico César, lá pelos idos anos 80, nunca deixei de tê-lo como um ativista político aguçado, inquieto, destemido, mas adaptado à busca de conhecimento vasto, preparado para se credenciar como cidadão do mundo, que não deixa nunca de manter bandeiras em favor dos Excluídos de todas as aldeias. Amoroso, viveu de ciganias até se deparar com a força humanista e de beleza de Bárbara Santos – o novo condão de vida afetiva do Catolaico em seu “Estado de Poesia”.

Esta essência amplificada, Chico César construiu ao longo dos tempos, mas de forma muito mais aguçada quando encontrou no caminho guerrilheiros culturais do nível de Pedro Osmar e Paulo Ró – como tantos outros, até afirmar-se num movimento alternativo em torno do Jaguaribe Carne e Musiclube, base de sua formação ao lado de Escurinho, Totonho, Milton Dornelas, Vandinho de Carvalho, etc.

Com ele, já vivemos histórias fantásticas, desde quando também se permitiu conviver com as diabruras do Jornalismo como estudante de Comunicação no antigo DAC (Departamento de Artes e Comunicação), hoje Decom da UFPB, ao lado de amigos comuns como o catoleense primoroso Carlos César Ferreira Muniz, jornalista de primeira, líder das lutas sindicais como poucos.

{arquivo}Nessa época, lembro bem do roubo da viola que Chico havia acabado de comprar. Estávamos em Natal, em 1982, a meu convite para gravar o primeiro programa de nossa turma na TV Educativa local (alô alô professora Miriam Moema!!!) com ele tendo a tarefa de produzir a trilha musical, ao lado de Rosa, Pereira, Elza de Patos, etc, quando num dos vacilos, eis que roubaram sua preciosa arma de poesias.

Cúmplices, estivemos em vários momentos importantes da Paraiba e do País. Um deles, como Chefe de Redação de O NORTE, nós dois vivendo de um Liseu incomum, aconteceu quando fui ao todo poderoso Marconi Góis de Albuquerque e depois a Frutinha – Frutoso Chaves, reivindicar a contratação de CC sob argumento de que precisávamos de um repórter eclético. Foi aí, que a primeira pauta de Chico se deu para entrevistar Nara Leão e, tempos depois, ainda hoje lembro bem, fazer o mesmo com Herbert Viana divulgando pessoalmente seu primeiro LP.

Depois disso, vivemos a ebulição de muitas lutas pela Redemocratização, Fora FMI, pelo acesso dos artistas às programações nas emissoras de rádio, etc, até que ele se despedir de Maria Júlia, minha mãe in memorian, no Castelo Branco, e lá se foi de vez morar em São Paulo, onde foi revisor da Revista Ela e, ao deixar o jornalismo e assumir a Música, passou a conviver com Tetê Espindola, Arrigo Barnabé, Itamar Assunção e toda uma geração genial de artistas misturando-se nesse universo revolucionário musical.

Veio o CD “Aos Vivos” e todos os demais CDs sempre com nossa presença permanente em muitos dos momentos históricos ao longo da vida.

No percurso, eis que a Política partidária nos afastou. Não só a mim. Nos perdemos num “conflito” onde queríamos a mesma coisa por caminhos distintos, até Chico César assumir a Secretaria de Cultura de João Pessoa e do Governo do Estado – experiência que acabou afastando-o de muitos dos amigos de primeira hora.

Fez parte do percurso, com tantos lamentos por existir, com ele resguardado para um novo momento artístico despontado novamente com o CD e show “Estado de Poesia” representando um Up Grade na sua vida de contestador e de brilhante musicista / compositor, agora enamorado de uma Paz afetiva traduzida Joãopessoalmente em Bárbara Santos com quem resolveu construir uma nova caminhada em nome do bem viver.

O CD é seu novo fruto de vida e de elo com a vanguarda poética e estética recente, mesmo que possa no caminho não conviver com a unanimidade. Mas é uma beleza de conteúdo poético e de elaboração musical.

Seja como for, Chico César é e sempre será em nós de geração comum, a expressão do talento respeitado internacionalmente por tudo o que soube extrair da sabedoria sertaneja de Dona Etelvina e Seu Francisco, seus pais, as meninas a partir de Emerina, além dos amigos de Jaguaribe, Castelo Branco e Bancários.

Chico César, em síntese, reencontrou a magia de ser uma referência genial indispensável.

Boa sorte.

 


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