Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O novo golpe


02/07/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Nos últimos dias de agosto de 1969, corriam boatos de que o presidente General Costa e Silva teria adoecido. A censura imposta à mídia não permitia que tivéssemos conhecimento dos verdadeiros fatos que aconteciam nos bastidores da cúpula do governo. Mas percebia-se um clima de apreensão no país.

No dia 31 de agosto, em transmissão por cadeia de rádio e televisão, era anunciado o AI-12, que transferia os poderes do presidente para uma Junta Governativa, composta pelos ministros militares: o paraibano General de Exército Lyra Tavares; o Almirante Augusto Rademaker, da Marinha e o Brigadeiro Correia de Melo, da Aeronáutica. A Nação era informada oficialmente de que o Presidente Costa e Silva teria sido vitimado de uma isquemia cerebral, e assim estaria impossibilitado de exercer suas atividades à frente do governo.

A notícia surpreendeu, não só pela inesperada doença do presidente, mas, principalmente, porque estava configurado um novo golpe, entendendo-se que num processo de normalidade seria obedecida a ordem de sucessão. Porém, os militares desconsideraram essa linha democrática e rejeitaram a idéia de um civil assumir o governo. E ao comunicar o vice-presidente Pedro Aleixo, sobre ele não poder suceder o General Costa e Silva, enfatizaram taxativamente a sua postura durante a reunião do Conselho de Segurança Nacional, lembrando-lhe : “além do mais, o senhor votou contra a edição do AI-5”.

Se havia alguma esperança de que o regime de força poderia se encerrar após o mandato de Costa e Silva, essa expectativa desapareceu por completo. Até porque, hoje se sabe que uma das causas do derrame sofrido pelo presidente foi o estresse pela recusa dos militares em admitirem uma emenda constitucional que extinguisse o AI-5.

Esse fato caiu como uma ducha fria no ânimo dos brasileiros, que alimentavam alguma esperança de ver findada a ditadura a que estávamos submetidos.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO”


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