Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O Liceu Paraibano


13/05/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Em 1963 passei a estudar no mais tradicional e conceituado colégio de João Pessoa, o Liceu Paraibano, onde cursei os dois últimos anos do ginasial e as três séries do clássico. Aqueles que desejavam prestar concurso vestibular na área de ciências humanas e sociais freqüentavam o curso clássico. Os que optavam pelas ciências exatas ou biológicas faziam o científico, que chamávamos distintamente de científico de engenharia e científico de medicina.

O Liceu Paraibano tem uma história que nasce em 1836, funcionando originalmente no antigo Convento de São Gonçalo, depois Faculdade de Direito da UFPB, ao lado do Palácio da Redenção. Em 1937 o então governador Argemiro de Figueiredo construiu na Avenida Getúlio Vargas o belíssimo prédio onde hoje está instalado.

O ensaísta e cronista paraibano José Rafael de Menezes o classificou como a “matriz intelectual da Paraiba”. Nele estudaram as maiores expressões do mundo político, cultural e artístico do nosso Estado. Quase todos os governadores foram alunos do Liceu. Nomes célebres da nossa história como José Américo de Almeida, o próprio Argemiro de Figueiredo, Celso Furtado, João Pessoa, João Agripino, Abelardo Jurema, freqüentavam os bancos escolares daquele educandário. O grande poeta Augusto dos Anjos, não só ali estudou como foi também professor.

Na época em que por lá passei era considerado o estabelecimento de ensino com o melhor corpo docente da educação paraibana. Tinhamos como mestres, juízes, médicos, advogados famosos, professores da universidade, engenheiros, além de renomados profissionais da educação. Eram bem remunerados. Citarei alguns que me vêm à lembrança: Dr. Wilson da Cunha, Milton Viana, Afonso Pereira, Fernando Barbosa, José Otávio de Arruda Melo, Daura Santiago Rangel, que foi diretora por muito tempo, Dr. Quinídio, Professor Perez, Anibal Moura, Argentina Pereira, etc.

Foi palco de grandes acontecimentos, sendo o quartel general dos movimentos da política estudantil paraibana. Tornou-se o laboratório de lideranças dos estudantes secundaristas. Nem quando a ditadura militar tentou desestabilizar a atuação política estudantil, proibindo a existência dos diretórios e criando os grêmios literários, se conseguiu conter o espírito de rebeldia que caracterizava a juventude daquele tempo. O Grêmio Literário Daura Santiago Rangel exerceu sua atividade política também, não obstante toda a repressão e riscos conseqüentes. Fui Diretor de Arte e Cultura do Grêmio e cheguei a disputar uma eleição para a vice presidente da agremiação. Mas isso é assunto para crônicas futuras.

A passagem pelo Liceu me traz lembranças de um tempo de grande efervescência política, que serão temas de textos a serem escritos mais adiante e que, com certeza, farão com que os contemporâneos rememorizem com saudade tudo o que ali acontecia. O Liceu era mais do que uma escola onde aprendíamos o que estava na grade curricular. Foi a grande escola da conscientização política da juventude paraibana, preparando-a para na fase adulta assumir a responsabilidade de dirigir os destinos do nosso povo. Era uma mocidade que não se amedrontava em se expor nas manifestações de contestação ao regime, nem de ir às ruas por reivindicações que tinham o objetivo de melhorar a qualidade de ensino ou garantir os direitos de cidadania.

Daqui por diante, obedecendo a ordem da cronologia do tempo, haveremos de juntos exercitar nossa memória, revivendo fatos que marcaram a dinâmica da vida estudantil no Liceu Paraibano.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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