Brasil
O infeliz vídeo institucional da Marinha
06/12/2024

A Marinha tem enfrentado tempos difíceis no relacionamento com a sociedade. Relatório da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado, aponta que seu comandante foi o único que decidiu aderir ao plano de ataque ao Estado Democrático de Direito, articulado no final de 2022. Pegou mal. Como se não bastasse isso, resolveu produzir um vídeo institucional para celebrar o Dia do Marinheiro, fazendo comparações infelizes entre o trabalho realizado por seus soldados e os civis, numa demonstração explícita da visão elitista que ignora às dificuldades enfrentadas cotidianamente pela população.
Interessante que o Dia do Marinheiro é festejado na data em que ocorreu a edição do Ato Institucional número 5 (AI-5), decreto assinado em 13 de dezembro de 1968 que inaugurou o período mais sombrio da Ditadura Militar. Tudo a ver. O comportamento adotado pela Marinha nessa trama golpista revela uma identificação com essas posturas totalitárias que historicamente o Brasil tem enfrentado enquanto República.
A Marinha macula sua imagem pública ao demonstrar esse distanciamento com a sociedade civil. Quando produz uma peça publicitária depreciando os trabalhadores não fardados, comparando com as atividades militares da corporação, comete um erro grosseiro de percepção da realidade. O trabalhador brasileiro não é vagabundo como o vídeo tenta mostrar.
O próprio título do filme publicitário, “Privilégios? Vem Para a Marinha”, já deixa claro que a intenção era reagir ao pacote fiscal do Ministério da Fazenda. No entanto, encontra dificuldades para negar realmente que os militares gozam sim de privilégios, pois recebem benefícios e salários superiores à média da população brasileira. Ofende quem patrocinou a produção do vídeo: a população que paga os impostos. Porém, deve ter alcançado o objetivo: afagar os integrantes da Força, ainda que em detrimento de sua imagem perante a população brasileira. A sociedade civil reage à pergunta feita no final do vídeo, convocando os marinheiros: “Venham para a vida real”.
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