Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Internacional

O indefensável bloqueio contra Cuba pelos EUA


04/11/2024

Desde 1º. de janeiro de 1959 a população de Cuba sofre com o mais longevo bloqueio econômico, financeiro e comercial Imposto a um país. A decisão do governo norteamericano, durante a presidência do republicano Eisenhower, se deu em razão da Revolução Cubana quando derrubou o ditador Fulgêncio Batista, que, por muito tempo, atuou como homem forte dos Estados Unidos na ilha. Desde então a comunidade internacional acompanha com preocupação solidária essa cruel forma de agressão contra uma nação soberana, em injustificável afronta à convivência democrática entre as nações.

Inicialmente o bloqueio era apenas nas relações comerciais. Com o passar do tempo essas restrições foram sendo expandidas e reforçadas. Além dos danos econômicos causados, configura-se uma grave violação aos direitos humanos, privando o povo cubano de acesso a bens essenciais e oportunidades de desenvolvimento, submetendo-o a dificuldades com objetivos políticos. Essa opressão coletiva é, portanto, um crime de lesa humanidade, que pode ser equiparado a um genocídio.

Os Estados Unidos desobedecem a Carta das Nações Unidas, da qual são um dos signatários, desrespeitando o princípio da não intervenção nos assuntos internos de outros Estados nacionais. A “Lei de Comércio com o Inimigo”, que dá poderes ao governo de Washington para restringir as atividades comerciais com qualquer país classificado como inimigo, aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos em outubro de 1917, em meio à Primeira Guerra Mundial, foi revalidada contra Cuba, pelo presidente Biden, mantendo a economia da ilha caribenha sob fortes embargos, ampliando as consequências maléficas que vem causando àquela população. Isso aconteceu dias antes da realização da 79ª Assembleia Geral da ONU.

É inadmissível que uma das principais potências econômicas e militares do mundo mantenha esse tratamento contra uma pequena ilha, unicamente por motivações ideológicas. As Assembleias das Nações Unidas têm, por diversas vezes, desde 1992, aprovado projetos de resolução que denunciam os terríveis efeitos sociais e econômicos que o bloqueio vem acarretando à população cubana. Mesmo assim os Estados Unidos se mantêm indiferentes às recomendações de desbloqueio, permanecendo com a severa política de asfixia da economia cubana. Estima-se um prejuízo de mais de US$ 421 milhões (R$ 2,3 bi) por mês, quantidade de dinheiro que o país fica impossibilitado de usar para melhorar a situação social da população.

A Assembleia Geral da ONU, realizada no dia 30 de outubro deste ano, pela 32ª. vez consecutiva, aprovou, quase por unanimidade, alcançando um apoio recorde, a recomendação do fim dos embargos à ilha socialista, registrando 187 votos favoráveis, dois contrários (Estados Unidos e Israel) e uma abstenção (Moldávia). O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, em discurso proferido antes da votação, defendeu a “remoção das sanções, a retirada de Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo e a promoção de um diálogo construtivo, baseado no respeito mútuo e na não intervenção”. Até a Argentina votou a favor de Cuba, mas horas depois seu presidente, um maluco da extrema direita, reagiu demitindo o embaixador que dera o voto contrário ao bloqueio dos Estados Unidos.

Não há precedente na História quanto a esse bloqueio adotado pelo governo norteamericano contra os cubanos. É uma questão de consciência elementar de humanidade se posicionar contra isso. A incivilidade do decadente império estadunidense continua obstinadamente tentando derrubar o governo revolucionário com essas medidas, mas o povo e o governo cubanos não têm se dobrado a esses ataques à sua soberania, ainda que enfrentando grandes prejuizos A decisão da ONU pode ser considerada um marco significativo para demonstrar a ilegitimidade internacional do bloqueio. Não há esperança de que a eleição de Kamala Harris provoque mudança efetiva nessa política desumana, mas podemos ter a certeza de que na possibilidade de vitória de Trump essa situação se agravará.


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