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O GRANDE ZÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA


08/10/2017

Foto: autor desconhecido.

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            A noite deste sábado (07.10) contemplou a plateia paraibana que esteve presente ao Teatro Santa Roza com a abertura do projeto MARTE – Mostra de Artes Teatrais Integradas, destacando o grande ator e diretor José Celso Martinez Corrêa, um dos mais importantes nomes da dramaturgia brasileira, que logo dominou a cena com a sua Aula Magnânima, trazendo a história do teatro desde a Grécia, passando por Roma, até os dias atuais em que somos ameaçados por nova censura.


O nu esteve presente, como quase em todo evento onde pontua a presença de Zé Celso, desafiando os novos tempos, de golpe político e ameaça de ditadura militar. Zé Celso tem 80 anos, sendo 50 dedicados ao teatro. É sem dúvida um dos mais premiados nomes da dramaturgia. Sofreu exílio durante o golpe de 1964, e sua história simboliza a resistência do Teatro Oficina, do qual é fundador, na grande São Paulo, travando à longa data, briga judicial com o grupo do empresário Silvio Santos, que deseja destruir o teatro para construir um shopping center e torres empresariais no local.


Em cena, em menos de dois minutos, como que magnetizando a todos, Zé Celso domina o espaço ao redor e delega ordens à plateia que segue seus ensinamentos desde o aprender a respirar, mover-se, cantar, pensar, expressar. Critica o uso do aparelho celular no local, sugere um teatro grego, retirando o público do conforto das cadeiras e recolocando-o nas frizzas dos andares superiores. Sua aula prossegue com o coro participativo de todos. “O teatro são as pessoas, todos…”, e ensina canções contemplativas do cosmos, reage à criatividade e explora o potencial de todos. Agora somos todos teatro… E chama atenção para o silêncio. Ouçam o silêncio.


A perseverante presença e filosofia de vida de Zé Celso, que em dado momento responde dizendo “não trocar o direito de sonhar, pelo desejo de Silvio Santos, de acabar com o teatro Oficina em troca da oferta de cinco milhões”, confirma a extraordinária dignidade na figura de um homem consciente de seu papel. “Porque eu iria trair a mim, trair meus amigos os atores de teatro que ajudaram a construir o Oficina e lá estão resistindo?”


Zé Celso prega com a máxima autoridade a fala de liberdade de uso do corpo, o direito de utilização da maconha, LSD e outras drogas de que diz ter feito uso na maioria das suas atuações liberando a alma, o ato de criar, atuar em cena. Sem perder a consciência, a personalidade, sem se trair, mas ousando, avançando nas suas convenções de cidadão, de direito.


Zé Celso Martinez Correa veio até nós, provando que mesmo com oitenta anos, ainda está em pleno vigor com sua inquietude e irreverência e uma indizível força e disposição de criatividade que o torna ícone ímpar do teatro contemporâneo.

Gil Sabino é jornalista e gestor de marketing.
g.sabino@uol.com.br
 


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