Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

O fundamentalismo político-religioso


23/11/2024

Os sectários se apoiam no fundamentalismo para defender suas ideias e opiniões, sempre de forma inflexível. Principalmente quando associam política e religião. Denotam posturas de fanatismo e de extremismo. Na América Latina temos visto governos que se apropriam dos preceitos do fundamentalismo religioso para firmar suas bases de apoio popular. Nacionalismos religiosos e fundamentalismos teocráticos têm produzido o que alguns chamam de “religiocização da política”. Atores políticos procurando trazer normas religiosas para a esfera pública, com o argumento de que é impossível ser um bom cidadão sem a obediência fiel a essas normas.

Núcleos ideológicos adotam comportamentos que guardam analogia com as religiões tradicionais quando vinculadas ao Estado, estimulando a sacralização de um sistema político. Elaboram uma retórica que favoreça interesses particulares ou de grupos em nome dos valores da sociedade. A pretensão de promover o reparo moral social através da ação política utilizando-se de uma concepção teológica.

O ódio à diversidade induz à formação de movimentos de intolerância que ameaçam os direitos humanos e a democracia. Líderes da extrema direita fazem uso de discursos e símbolos religiosos para legitimar projetos de poder. A religião sendo transformada em braço da política conservadora com o crescimento avassalador do neopentecostalismo nas comunidades populares. A força de persuasão exercida por essas igrejas contribui para que se tornem um poder político. Incute na consciência desses crentes a sensação de que estão ameaçados naquilo que toca suas emoções e seus afetos. Suscita o medo de que as crenças e valores que sustentam suas convicções religiosas estejam em risco.

Estabelece-se uma espécie de “guerra santa” com direito a citações bíblicas interpretadas e ajustadas segundo as conveniências do momento político. O fundamentalismo político-religioso é reacionário às mudanças sociais, configurando-se um movimento polarizador e separatista, negando-se a uma convivência de diálogo com quem pensa diferente. Para o fundamentalista político-religioso os processos modernos de socialização e a aceitação dos avanços da ciência só ganham legitimidade se efetivados na conformidade de suas doutrinas e dogmas religiosos.

Quando se mistura religião e política saem ganhando os mercadores da fé e os líderes populistas aproveitadores das consciências alienadas. Eles usam da credulidade do povo para alcançar seus fins. O povo de Deus tem sido massa de manobra nas mãos desses homens inescrupulosos. É atribuída autoridade espiritual a falsos messias para a prática de arbitrariedades que não se ajustam à pregação evangélica cristã. O fundamentalismo religioso imperialista que tem assolado nossa fé precisa ser enfrentado de maneira a que possamos fortalecer a nossa espiritualidade libertadora e de paz.


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