Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O Festival de Artes de Areia


27/08/2015

Foto: autor desconhecido.

 

A cidade de Areia é conhecida nacionalmente por suas riquezas culturais. Berço de duas grandes personalidades da história brasileira, o político e romancista José Américo de Almeida e o pintor Pedro Américo, foi lá construído a primeira casa de espetáculos artísticos da Paraíba, o Theatro Minerva, cinco décadas antes do Teatro Santa Roza, da Capital. Por isso mesmo é classificada como a “terra da cultura”, o que lhe oferece as condições para sediar o mais importante evento de mostra de artes e debates da cultura no Nordeste.

Em primeiro de fevereiro de 1976 acompanhei meu pai, que na época ocupava o cargo de Sub-chefe da Casa Civil do Governo do Estado e presidia o Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, numa viagem para aquele município com o propósito de assistir a abertura do I Festival de Artes de Areia. O governador Ivan Bichara, homem vocacionado para as atividades cuturais, de pronto comprou a idéia do então deputado Eilzo Matos e criou oficialmente esse festival, de caráter nacional, onde poderiam ser manifestados talentos da literatura, do teatro, do cinema, das artes plásticas, da música e do folclore, num acontecimento de grande efervescência cultural.

Sua primeira edição, organizada pela Secretaria de Educação e Cultura, que tinha à frente de sua gestão o professor Tarcisio Burity, foi de absoluto êxito, ganhando repercussão em todo o país. A solenidade de abertura realizada no auditório do Colégio Santa Rita, contou com a presença do Governador Ivan Bichara e do Ministro José Américo de Almeida, patrono do festival. Apresentou-se naquela noite a Orquestra Armorial de Câmera, regido pelo maestro Cussy de Almeida, oportunidade em que foram prestadas homenagens póstumas ao intelectual Virginius da Gama e Melo, recentemente falecido.

Durante a semana circulavam pelas ruas da cidade personalidades ilustres como o crítico literário Ivan Proença, o teatrólogo Paulo Pontes, o cineasta Waldir Lima Júnior, o escultor Jackson Ribeiro, os críticos de cinema Jean-Claude Bernadet e Ronald Monteiro, os documentaristas Vladimir de Carvalho e Ipojuca Pontes e o maestro Pedro Santos.

Na sua programação ocorreram, entre outras atividades, o lançamento do livro “Gota D`Agua” de Chico Buarque e Paulo Pontes; a exibição do documentário “O Último Coronel” de Machado Bittencourt e a apresentação do Quarteto Armorial, dirigido por Ariano Suassuna.

A partir de então o Festival de Artes de Areia passou a ser incluído no calendário artístico-cultural do Nordeste, com edições anuais até 1982, quando sofreu uma interrupção, só voltando a ser realizado em 1998. Em 2008, novamente foi suspensa a sua realização, sendo reativado no governo Ricardo Coutinho em 2011.

No entanto, neste ano, alegando dificuldades de ordem financeira o governo estadual anunciou que o Festival não seria realizado. A decisão, ainda que lamentada, principalmente pelos produtores culturais, recebe a compreensão de algumas pessoas intimamente ligadas ao município, entre os quais Romeu Lemos, ex-secretário de turismo do Estado, que defende a profissionalização do evento, fugindo da dependência exclusiva do patrocínio financeiro dos poderes públicos, aos quais, segundo ele, cabe a responsabilidade de garantir o apoio institucional. Romeu cita como exemplo, o Festival de Cinema de Gramado, criado na mesma década do de Areia, que conseguiu se consolidar, não só pela forma profissional com que seus promotores tratam a sua organização, mas também porque o município acompanhou o crescimento do evento, oferecendo condições turísticas e econômicas para receber público de todo o Brasil. Gramado possui atualmente mais de quinze mil leitos em sua rede de hotéis, enquanto Areia não chega a alcançar o número de 500 leitos para hospedagem, só para citar um dado econômico importante para fortalecer qualquer evento de porte nacional. Nesse entendimento, Romeu Lemos apostando no potencial cultural de Areia, única cidade do interior paraibano tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, decidiu investir num empreendimento turístico naquele município, oferecendo a sua contribuição para que Areia consiga efetivamente se preparar para atender as condições de sediar um evento de tamanha envergadura.

Confiamos, no entanto, que a sua não realização neste ano, seja apenas uma ocorrência episódica, forçado pelas circunstâncias impostas pela crise econômica que vivemos, e que O Festival de Artes de Areia seja mantido nos próximos anos, produzindo a movimentação cultural e artística que tradicionalmente se afirmou.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.