Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

“O encontro das águas”


18/05/2014

Foto: autor desconhecido.

 

O fenômeno do encontro das águas do mar com o rio que ocorre na foz do Amazonas, serviu de mote para Jorge Vercillo e Jota Maranhão falarem dos encontros ou choques entre duas pessoas que se amam. A música “Encontro das águas”, o primeiro grande sucesso de Jorge Vercillo, foi lançada em 1993.

“Sem querer te perdi tentando te encontrar/Por te amar demais sofri, amor/Me senti traído e traidor”. O personagem que canta a música, lamenta a perda da mulher que amava por ficar sempre tentando entendê-la completamente. Essa busca obsessiva causa uma sensação de pressão que incomoda. Todo amor desmedido provoca conflitos porque gera desconfianças, ciúmes, sentimento de posse. Isso ocasiona sofrimento e deixa a dúvida se ele está na condição de quem trai ou de quem se sente traído.

“Fui cruel sem saber que entre o bem e o mal/Deus criou um laço forte, um nó/E quem viverá um lado só?”. Admite que agiu com dureza, sem procurar distinguir o bem do mal. Precipitou-se por não entender que, entre o que é bom e o que é ruim Deus criou um vínculo, um nó, que precisa ser desatado. Difícil é saber se posicionar de forma consciente para viver um lado só.

“A paixão veio assim afluente sem fim/Rio que não deságua/Aprendi com a dor, nada mais é o amor/Que o encontro das águas”. As águas de um rio que correm em afluência com outro se juntam mais à frente. Os autores da música aproveitam-se dessa imagem para dizer que a paixão segue um curso paralelo ao do verdadeiro amor. Muitas vezes com mais velocidade dificultando o encontro em condições normais adiante. Tudo isso se torna um aprendizado, ainda que ao custo de dores, mágoas, desilusões, motivados pelos impulsos do amor. É quando os autores fazem a analogia do amor ao encontro das águas.

“Esse amor hoje vai pra nunca mais voltar/Como faz o velho pescador/Quando sabe que é a vez do mar”. A experiência do pescador permite conhecer o momento em que as águas do mar rebatem a chegada das águas do rio. Assim acontece com o amor que foi embora sem possibilidades de volta. Não foi possível a junção das águas. Todo mundo sabe que a mesma água não passa novamente pelo mesmo local. Foi embora e não volta mais.

“Qual de nós já foi buscar o que já partiu/Quis gritar, mas segurou a voz/Quis chorar, mas conseguiu sorrir?”. Na certeza da perda desaparece a disposição de ir ao rumo da reconquista. Por mais que deseje gritar sua decepção, consegue se conter. Ao invés de chorar, prefere sorrir para não dar a demonstração de desolação, pesar, tristeza. Uma questão de amor próprio.

“Quem eu sou/Pra querer entender o amor?”. Resignado, reconhece o quanto é difícil e complicado entender os mistérios do amor.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.


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