Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Geral

O bom cafajeste


17/02/2023

 

Dia desses uma amiga, conversando comigo no café da manhã da padaria ao se referir a um empresário bem sucedido e cantor nas horas vagas, afirmou que ele era um cafajeste. E foi mais além.
Você deve saber, porque um cafajeste conhece outro.

Foi o bastante para eu mergulhar no âmago da questão e voltar ao universo de Nelson Rodrigues, o mais influente dramaturgo do Brasil e autor de obras extraordinárias como Bonitinha, mas ordinária, Toda nudez será castigada, Vestido de noiva e O beijo no asfalto.

Nessa última , um bancário, depois de presenciar um atropelamento, atende ao pedido da vítima, um homem, que lhe pede um último beijo na boca.

E lembrar também de Jece Valadão, o maior de todos os cafajestes e protagonista do filme homônimo dirigido por Ruy Guerra, lançado no início dos anos 60 em meio a proibições e protestos da sociedade de então.

O fato é que o termo apresentou ao país o biotipo de um novo ser. Um homem conquistador e sem escrúpulos que, ao contrário do canalha, morde e assopra, mas se impõe limites porque o seu objetivo é sempre a conquista.

Por isso é muito natural que ele tenha surgido e conseguido notoriedade nos anos 60, onde imperava o falso moralismo e as mulheres tentavam conquistar seus espaços ao mesmo tempo em que os homossexuais lutavam para sair do armário.

Um universo que foi retratado a contento pelo anjo pornográfico – título da magistral biografia do pernambucano Nelson Rodrigues escrito por Ruy Castro – e até hoje super atual.

E tudo isso me veio à cabeça ao acompanhar o caso rumoroso de Daniel Alves e também o aumento dos casos de estupro e feminicídio do Brasil.

Chega a dar saudade da engraçadinha e da dama da lotação e lamentar que já não se façam homens como antigamente. E que embora muitos fossem cafajestes naquela época,só a reciprocidade era capaz de dar prazer.

Simples assim. Sem tirar e nem por.


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