Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O batismo na política


15/04/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Minha vida foi sempre marcada por fortes influências das ações políticas. Desde criança, mesmo quando sequer tinha noções do que fosse política, já estava sendo alvo de suas consequências. No princípio em razão das posições assumidas por meu pai, depois por minhas próprias atitudes. Herdei dele essa paixão pela política, que, na verdade, não nos leva a nada, a não ser a oportunidade de vivenciarmos, muitas vezes, decepções, equívocos e perseguições. O exercício da política deve ser um pressuposto da consciência cidadã, mas não pode ser instrumento para alimentar amores incondicionais, nem ódios arraigados. Só recentemente passei a compreender melhor isso.

No curso da minha existência vivi todos os tipos de situações por conta dessa paixão política que herdei de meu pai. Alegrias e tristezas, conquistas e perdas, prazeres e dissabores. Procurarei narrar alguns desses episódios por aqui, ao longo das crônicas que integram essa série que intitulei “INVENTÁRIO DO TEMPO II”, ainda que, por vezes, evite citar nomes para não criar suscetibilidades com personalidades vivas.

Em criança já era afetado por esse perverso comportamento, tão natural na política: a perseguição. A condição de “americista”, que meu pai tão fervorosamente assumia, foi causa de ameaças de transferência para outras localidades de trabalho, por exigência daqueles que se postavam de forma contrária ao que ele defendia. Na tentativa de inibí-lo, articularam sua remoção de Cajazeiras para o município de Cabaceiras. E só não conseguiram o intento, por intervenção do meu tio Leitão, que politicamente divergia do meu pai, mas nessa hora veio em seu socorro, conseguindo alterar o ato de transferência para uma situação menos traumática.

Meu tio tinha fortes ligações políticas com um dos grandes líderes do sertão, Major Jacob Frantz, que viria a ser nomeado secretário de agricultura do Estado. Atendendo seu pedido, meu pai foi então nomeado para uma assessoria em sua secretaria, o que ocasionou nossa mudança para a capital no início de 1958.

Portanto, esse foi meu batismo na seara política, mesmo totalmente inocente do que estava acontecendo. De qualquer forma, como diz um velho ditado popular, “não há mal que não traga um bem”. Não obstante, uma série de dificuldades enfrentadas nos primeiros anos de moradia em João Pessoa, essa mudança de residência veio consolidar um novo e promissor tempo na vida profissional e familiar de nossos pais. Aqui se estabeleceram, tiveram mais três filhos e puderam constituir então uma família feliz.

Ao tempo em que provocava aos meus pais a tensa decisão de aventurarem-se na busca de se adequarem a novas condições de vida, longe de sua região de origem, a mim foi, contrariamente, a abertura de portas para crescer num ambiente mais fértil de oportunidades, em todos os sentidos. Aqui me fiz gente.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”


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