Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O bairro de Jaguaribe


21/04/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Criei com o bairro de Jaguaribe uma relação de afetividade. Lá vivi muitos dos anos de minha vida. Chegando no final da década de cinquenta, o subúrbio ainda possuía um aspecto meio rural, com grandes terrenos sem construção que se assemelhavam a verdadeiros sítios. Poucas ruas tinham calçamento ou esgoto sanitário. Mas já começava a mudar sua fisionomia urbana.

O bairro já possuía uma dinâmica de vida própria das cidades. Aos poucos deixava de ser uma área exclusiva de habitações e ganhava equipamentos de comércio, escolas, templos religiosos, etc. O movimento de urbanização era maior em torno da Igreja do Rosário, gerida pela Ordem Franciscana. Ao seu lado direito existia o cinema Santo Antônio e por trás o campo do Estrela do Mar, onde a juventude iniciava suas práticas de exercício físico, principalmente o futebol.

A feira livre se localizava em frente à Igreja e ao lado esquerdo a Escola Técnica Federal. Tanto a feira, quanto o educandário foram transferidos, na década de setenta, para o final da Avenida Primeiro de Maio, onde o governo municipal construiu um Mercado Público, e a escola se transformou no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, também ministrando cursos de nível superior. A mudança se deu em razão da edificação do Centro Administrativo Estadual, no governo Ernany Sátiro, em 1972.

Perto de minha casa, na Avenida Frei Martinho, existia o Externato da Sagrada Família, mantido por freiras, destinado exclusivamente ao sexo feminino. Lá foram matriculadas minhas irmãs, com idade de frequentar escolas.

O lazer se restringia às festas da padroeira e aos encontros antes e depois das missas na Igreja do Rosário. Ali surgiam as paqueras e nasceram muitos namoros que se efetivaram em casamentos. Era na Avenida Vasco da Gama, que o mundo intelectual e político da cidade costumava marcar presença no Bar do Luzeirinho, com suas mesas na calçada, a famosa cerveja gelada e “tira gostos” saborosos. Era o “point” boêmio da época.

O bairro era servido por bondes, uns menores que iam até o final da Avenida Primeiro de Maio e outros maiores que vinham de Cruz das Armas e passavam pela Avenida João da Mata e Trincheiras. Tenho recordações dos pequenos ônibus que faziam linha do bairro até o Ponto de Cem Réis, as marinetes.

Noutros textos tratarei com maiores detalhes como esses equipamentos da vida urbana do bairro marcaram a vida de todos nós que habitamos Jaguaribe durante aquele tempo. São reminiscências que nos trazem muita saudade.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”


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