Política
O avanço do neopentecostalismo
03/05/2025

A laicidade é um princípio da nossa Constituição. Não é o que temos visto com o avanço das igrejas fundamentalistas conhecidas como neopentecostais. Elas têm se afirmado como força política do neoliberalismo com o discurso da teologia da prosperidade, afirmando que a riqueza é uma benção de Deus. E isso tem ressoado nos setores menos privilegiados da população. As igrejas neopentecostais se tornaram um centro para a vida social, atraindo jovens da periferia para suas fileiras. Elas estão conseguindo estabelecer um diálogo entre o religioso e o político.
É um fenômeno sócio-religioso inserido nas esferas do pentecostalismo e do protestantismo, atuando na pregação do trinômio “cura-exorcismo-prosperidade”, fruto de um pensamento teológico triunfalista e materialista. No Brasil esse movimento se intensificou a partir da década de 1970, com a criação da Igreja Universal do Reino de Deus, além da Igreja Internacional da Graça de Deus, quando membros de denominações consideradas pentecostais se desvincularam para formar suas próprias igrejas, mudando o velho estereótipo pelo qual os “crentes” eram identificados, adotando novos ritos, crenças e práticas. A partir de então, outras denominações passaram a ser conhecidas, se fazendo presentes nas mais diversas áreas do contexto nacional, da mídia ao cenário político.
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Na defesa de ideias ultraconservadoras constituíram igrejas-empresas, cujo poderio se expandiu nas periferias brasileiras, chegando à esfera pública. Consolidou-se como política institucionalizada, conseguindo eleger pastores e adeptos para o Congresso Nacional e em estados e municípios brasileiros. Ao mesmo tempo, cuidou em formar um império midiático. Suas igrejas transformaram-se numa espécie de “curral eleitoral”.
Sua pregação doutrinária assume posições radicais que ameaçam os princípios democráticos. Associam a esquerda como um espectro destruidor da família e contrária à religião. O projeto fundamentalista em que se apoia, se consolida nas camadas mais pobres da sociedade por meio de uma linguagem e estética reconhecíveis pelo povo, propagada por pastores que atuam como lideranças comunitárias, a partir da quebra da visão do socialismo como horizonte na superação da opressão. Há uma definição de que o povo pobre deve assumir uma postura apoiada na fé, vinculada a um projeto que se diz cristão, colocando a igreja como refúgio do medo, onde encontra acolhida e cuidado, um espaço de socialização.
O fenômeno religioso neopentecostal é fruto de políticas neoliberais que prometem melhoria de condições de vida. A inserção nesse espaço da fé, legitima e amplia o fundamentalismo religioso, a partir de “verdades” continuamente reafirmadas, aceitas nas comunidades periféricas. Não pode ser ignorada a força política que possue. Há risco de que os neopentecostais consigam dominar o cenário político nacional, em flagrante ameaça à nossa democracia. Todo cuidado é pouco com esses líderes políticos que podem ser classificados como “falsos profetas”.
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