Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Sociedade

O ano que virá


31/12/2023

Padre Julio Lancelotti (Foto: Reprodução/Instagram @padrejulio.lancellotti)

Alguém falou que o Ano Novo existe para mostrar ao homem os seus limites e que não há imortalidade. Não tem volta nem ré como dizia Martinho Moreira Franco, um dos tantos amigos que perdi nesse tempo exíguo que passamos na terra.

O certo é que a vida é feita de perdas e danos, que não podemos controlar. No filme de Malle, que valeria o preço do ingresso só por ter Juliette Binoche no elenco, há uma provocação que é o amor de um homem pela noiva do seu filho, mas nem sempre é assim.

A perda vem de todo modo e de todo jeito e o dano é uma consequência. O efeito colateral e o intangível, no universo do inevitável onde todas as possibilidades são plausíveis.

O réveillon, seria nesse contexto uma adoração repaginada em busca da proteção divina para o tal do ano que virá, que também é o título de uma canção de Roberto Miranda, o Beto Mi, de Espanhola e Pra não dizer que não falei do verso.

Um bom amigo, que lotava o Paulo Pontes quando vinha se apresentar por aqui, e que também se foi para não mais voltar. Ele e muitos outros do passado e do presente, cheios de projetos e planos para o futuro.

Mas, não sinto nostalgia ao falar da perda, quando muito a falta da presença e dos conselhos, do apoio nos momentos difíceis e da comemoração pelas novas e importantes conquistas.

A maior de todas foi a de Juca Pontes, até mesmo porque ela aconteceu quando estávamos resgatando a ponte de um velho cronista e amigo, hoje em ruínas por sobre o rio Sanhauá.

E que apesar de não gozar da fama como as do Rio Kwai e as de Madison, do filme de Clint Eastwood, e não ser uma ponte longe demais, fazia a ligação do centro histórico com o interior do Estado e durante algum tempo ficava próxima da minha casa, na humilde Vila União.

Por sorte, e quem sabe, com o dedo de Deus e também do poeta, conseguimos, os que ficaram, concluir o projeto que foi o filme sobre Gonzaga Rodrigues, provavelmente a melhor coisa que aconteceu comigo nesse ano que se vai.

Um ano de muitos avanços, que pode desde já entrar para a história também como sendo o ponto de partida para a evolução e consagração da inteligência artificial, um passo extraordinário para tudo que aí está.

Também como o Ano Novo, ela escancara a farsa da imortalidade, a partir do momento em que interfere na própria vida e na medida em que contribui para a revolução da ciência de um modo geral.

Notadamente na sobrevida, onde prolonga a existência e combate os que se opõem a ela. Existisse há mais tempo, eu não teria perdido tantos e o ano que virá iria concretizar os sonhos de primavera do meu amigo cantor.

Por isso, apesar de tanto por fazer, acredito que a vida dos meus filhos e netos vai ser bem melhor daqui pra frente. Com mais liberdade e nenhum preconceito. E com mais espiritualidade, para que os limites se contraponham à violência e a guerra.

Vi hoje, na véspera do novo ano, a imagem do padre Júlio Lancelotti fazendo o que sempre faz nesse período que é distribuir comida para os que mais precisam dela, no seu caso os moradores de rua de São Paulo.

Para mim, foi uma das mais belas do ano. Um sacerdote fiel aos seus votos de pobreza. Um homem santo, que serve de exemplo para tantos outros que envergonham a nossa fé.

Feliz Ano Novo para todos.


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