Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O adeus a Ruy Carneiro


08/09/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Durante todo o mês de julho de 1977 a Paraíba acompanhava com preocupação as notícias sobre o estado de saúde de um dos mais importantes líderes políticos de sua história, o senador Ruy Carneiro. Mas no dia vinte chegava a informação que todos temiam, ele havia falecido às dezessete horas no Hospital de Base de Brasília, vítima de uma diverticulite.

O clima em nosso Estado foi de consternação. A população passou então a esperar a chegada do corpo para prestar-lhe as últimas homenagens. Antes porém do deslocamento do féretro para a nossa Capital, Ruy Carneiro foi velado no Senado, onde seus companheiros de parlamento ofereceram-lhe honras póstumas. Embora atuando politicamente em oposição ao governo, o Presidente Geisel foi também reverenciar a figura daquele destacado homem público paraibano.

As onze horas do dia seguinte à sua morte, o esquife foi transladado para João Pessoa, em avião da FAB. Acompanharam na aeronave, além dos parentes mais próximos, os senadores Petrônio Portela e Leite Chaves. O médico Carneiro Arnaud, que esteve presente junto ao seu leito de hospital nos seus últimos dias de vida, também se incorporava à comitiva do avião.

Por volta de quinze horas a aeronave pousava no aeroporto Castro Pinto, onde já era aguardado por um público estimado em torno de quatro mil pessoas. O caixão mortuário, coberto por uma bandeira da Paraíba, foi transportado em carro aberto, em cima de um caminhão do Corpo de Bombeiros, sendo aclamado e aplaudido nas ruas em que passava. A Avenida Cruz das Armas ficou tomada nos dois lados, com as pessoas acenando e chorando na saudação ao seu líder. Permaneceu em câmara ardente no Palácio da Redenção pelo resto do dia e toda a noite. Filas intermináveis foram formadas para que o povo pudesse dar-lhe o último adeus. Os deputados Bosco Barreto e Ruy Gouveia ficaram todo o tempo ao lado do esquife.

Na manhã seguinte, a cidade, com o comércio, repartições públicas, escolas e bancos fechados, assistiu ao funeral do Senador Ruy Carneiro. Uma multidão calculada em cinqüenta mil pessoas acompanhou o séquito até o cemitério Senhor da Boa Sentença. Em alguns instantes cantavam a música Maringá, composta por Joubert de Carvalho, em 1931, a seu pedido quando exercia o cargo de oficial de gabinete do Ministro da Viação, José Américo de Almeida, que abordava o problema da seca do Nordeste e citava sua terra natal, Pombal. O arcebispo Dom Marcelo Carvalheira presidiu as cerimônias religiosas encomendando o corpo.

O presidente Geisel telefonou para o Governador Ivan Bichara solicitando que o representasse no sepultamento, oportunidade em que fez uso da palavra. Falou também na ocasião o deputado Marcondes Gadelha.

Expressões da política paraibana declararam sentimento com o falecimento do senador paraibano, entre eles alguns adversários políticos. Ernany Sátiro: “Ruy Carneiro foi o maior fenômeno eleitoral que a história da Paraíba registrou desde a época da redemocratização”. João Agripino: “Poucos homens puderam igualá-lo em bondade e vocação para o serviço público”. Pedro Gondim: “Ruy simbolizava a imperecível força da bondade em contraposição ao poder eventual da força”. No Senado foi substituído por Ivandro Cunha Lima.

Uma frase proferida na sua campanha para governador ficou gravada na memória popular e até hoje é tida referência da sua personalidade política: “Forte é o Povo”.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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