Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

“Nuvem passageira”


21/02/2014

Foto: autor desconhecido.

Existem músicas que nos levam a refletir sobre a vida. “Nuvem passageira”, de Hermes Aquino é uma delas, em sua letra, um belíssimo poema tematizando o efêmero da vida, defendendo a tese de que devemos viver intensamente cada oportunidade da nossa existência terrena.

“Eu sou nuvem passageira/Que com o vento se vai/Eu sou como um cristal bonito/Que se quebra quando cai”. Tudo na vida é transitório. Nada do que somos ou fazemos é permanente, eterno. O próprio passar do tempo se encarrega de transformar. As nuvens são assim, elas passeiam pelo céu e nunca estão paradas. Também mudam de forma a cada momento que as vemos. O vento dá movimento e, quando você menos percebe, elas já desapareceram de sua vista. Assim somos nós. Por analogia podemos dizer que o tempo é o vento que provoca as alterações de nossa vida. A relação pode ser feita também com um cristal em que se dedica cuidados especiais, como se fosse uma preciosidade que não se deprecia. Todo mundo sabe que um cristal quando se quebra não tem remendo. Jamais será o mesmo que foi antes da queda que o fez se quebrar.

“Não adiante escrever meu nome numa pedra/Pois esta pedra em pó vai se transformar”. Nesses versos o autor realça a certeza de que nada é para sempre. Por mais que se imagine a solidez de algo, tornando-o permanente, comparando-o com a pedra, por exemplo, a realidade tem demonstrado que no decorrer do tempo o que era pedra pode virar pó. O nome escrito na pedra desaparecerá e ficará apenas a lembrança do que fez, na intenção de deixar um registro que nunca se apagaria.

“Você não vê que a vida corre contra o tempo/Sou um castelo de areia na beira do mar”. O autor começa a valorizar a consciência de que a vida deve ser vivida intensamente a cada instante, porque ela passa rapidamente ao correr do tempo. Novamente usa a imagem de um castelo de areia construído à beira mar para denotar a fragilidade do nosso existir. Basta vir uma onda do mar para fazer ruir o castelo de areia. Então, que esse castelo seja útil enquanto estiver de pé, sem o risco de ser alcançado pelas águas da praia.

“A lua cheia convida para um longo beijo/Mas o relógio te cobra o dia de amanhã”. Muitas vezes somos seduzidos por desejos circunstanciais e nos entregamos a eles como se fossem infinitos. Esquecemos que o amanhã já nos cobrará outras atitudes, outras posturas, outras formas de viver a vida. Daí a necessidade de aproveitar ao máximo cada momento da vida.

“Estou sozinho, perdido e louco no meu leito/E a namorada analisada por sobre o divã”. Enquanto vagamos em pensamento na cama, meditando sobre os acontecimentos passados, presente e futuros da nossa vida, alguém que compartilha conosco desses instantes, pode estar fazendo psicanálise querendo entender a razão do próprio viver.

“Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva/Não quero nem saber de me fazer, ou me matar”. Fugir das preocupações. “Dançar na chuva”, quer dizer fazer o que lhe der prazer, atirar-se na vida. Não se angustiar com a possibilidade da morte ou com as dificuldades que possa enfrentar no dia a dia.

“Eu vou deixar um dia a vida e a minha energia/Sou um castelo de areia na beira do mar”. A decisão é fazer valer toda a sua capacidade de viver enquanto puder, para que não se arrependa quando “o castelo de areia” estiver sendo desmanchado pelas águas do mar.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.

 


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