Cultura

Nós temos o melhor forró do mundo


23/07/2020

Imagem ilustrativa

Em homenagem à Pinto do Acordeon

A morte recente do cantor e compositor de forró, o paraibano nascido em Conceição, Pinto do Acordeon, nos leva a refletir sobre essas tantas figuras oriundas do vasto interior, e do sertão, principalmente do Nordeste do Brasil, onde nascem e trazem suas raízes de forma poética, na cantoria, no cordel, no repente, nas canções que jamais se esquece, para os centros urbanos e até o estrangeiro nos planos internacionais. Prova disso é a canção Asa Branca (1947), de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, conhecida na América do Norte, na Europa, Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Itália, no Japão, onde quer que se vá. Distribuída, regravada por vozes internacionais de grande valor, em arranjos que vão do popular ao clássico. Uma das canções mais regravadas em todo o mundo…

E qual a receita infalível para que todo esse sucesso aconteça, digamos, de forma tão espontânea, quando ainda não havia o evento do fenômeno da internet para a logística da distribuição e divulgação via streaming? Não precisa ser estudioso para entender que originalmente o forró, o xote e o baião, traduzem de forma simplória a vida do homem comum do sertão, a forma de falar e todo seu dialeto, o dizer as coisas simples, e ao mesmo tempo grandiosas, criando toda uma narrativa cronológica da vida daquela tão rica região. O famoso Country brasileiro.

Especialmente entre os estados da Paraíba e Pernambuco se encontram os mais famosos artistas desse ritmo de tanta força, o Forró. A partir daqui temos nomes consolidados como Jackson do Pandeiro, Sivuca, Elba Ramalho, Flávio José, Dejinha de Monteiro, Parrá, Genival Lacerda, Amazan, Zé Ramalho, Severo, o próprio Pinto do Acordeon, Antônio Barros e Cecéu, Marinês, Lucy Alves, Fulô Mimosa, Os Fulanos, Os Gonzagas, esses quatro últimos, da nova geração, e muito outros, e perdoem aqui os não citados.

De Pernambuco romperam o mundo Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Anastácia, Dominguinhos, Petrúcio Amorim, Santanna O Cantador, Novinho da Paraíba, Assisão, Alcymar Monteiro, Maciel Melo, Quinteto Violado, Geraldo Azevedo, Cezinha, Cristina Amaral, Irah Caldeira, Silvério Pessoa, Mestre Salu, Jorge de Altinho, Nando Cordel, e muito outros. E notem os leitores que não estamos inserindo o atual forró universitário, e nem o chamado `forró de plástico´, uma geração que adulterou o forró de raiz, e somou como proposta a um novo ritmo.

Dos artistas citados, particularmente, a maioria nós tivemos a oportunidade de conviver entre os anos 80/90, través de trabalhos de produção, viagens para shows, etc. Foram experiências ricas que nos levaram a refletir na força da expressão do forró.

Dizem que a palavra forró vem do inglês For All (em português, Para Todos), uma plaqueta que existia pendurada nos primeiros trens de ferro que aqui foram implantados para transporte das massas. Ainda, seja como for, que no início do século XX, os engenheiros britânicos, instalados em Pernambuco para construir a ferrovia Great Western, promoviam bailes abertos ao público, ou seja, For All. Assim, como os matutos não sabiam a pronúncia correta, emendavam um forró, e assim ficou…

Dos tradicionais bailes de terreiro, a chão de barro batido, com trios de tocadores e cantores usando apenas sanfona, triângulo e zabumba, e realizados até o amanhecer, a maioria nas fazendas rurais onde prevalecia o cultivo agrícola, o forró foi ganhando espaço nas grandes cidades, até chegar ao formato hoje encontrado nos maiores centros como Campina Grande/PB e Caruaru/PE, com eventos que concorrem atraindo todo ano milhares de pessoas para O maior, e o Melhor São João do Mundo, como assim são denominados, e que tem até 30 dias de atividade contínua com mais dez mil shows. Sem esquecer também os estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará, Pará e São Luís, os shows de Quadrilhas, a gastronomia, o turismo, a economia, o patrocínio e tudo o mais. O Forró evoluiu, e como evoluiu…

Lembro de conversas durante viagens ao lado de Dominguinhos, ou com Santanna, com Luiz Gonzaga, revelando o desejo de ver o forró espalhado pelo mundo, tocando nas rádios, sendo mostrado nas televisões, com shows além do Brasil. Pois bem, o forró saiu do lugar comum e hoje começa a bater perna ganhando o mundo. Que o diga a embaixatriz Elba Ramalho.

Muito dos nomes que levaram suas vidas trabalhando para dar força a essa realização, já se foram, e esta semana novamente o forró entrou em luto com o falecimento de Pinto do Acordeon.

Indiscutivelmente foi através da força dos versos das canções desses muito artistas acima citados, que foi ganhando força e expressão um dos maiores ritmos do mundo. Sim, nós temos o melhor forró do mundo.


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