Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Notícias

No tempo da Love Vídeo


28/05/2023

Um telefonema de André Cananéia para uma matéria sobre as locadoras de vídeo, despertou em mim o desejo de falar da Love, uma história de amor com o cinema.
Recém saído de uma editoria de cultura no jornal Correio da Paraíba, e já às voltas com um projeto autoral de publicidade, o projeto não era apenas um sonho que não acabou, mas também uma realização pessoal e única.
Viciado compulsivo pela sétima arte, enxergava na locadora a oportunidade de compartilhar filmes de todos os gêneros, muitos deles clássicos e definitivos, e também a oportunidade de rever, no conforto de casa, obras que marcaram a minha vida até então.
E foi assim que estendemos o tapete vermelho no primeiro endereço da Love, um espaço acanhado em um centro comercial na Lagoa, mas decorado com muito amor.
Nas prateleiras, multiplicavam-se títulos em VHS – não mais que quinhentos- escolhidos a dedo, como se diz.
Ali estavam, em lugar de destaque, filmes como Cantando na Chuva e Psicose, ao lado de, O Sol por Testemunha, Teorema e A Bela da Tarde.
E foi aí que entrou em cena o marketing e a ajuda dos amigos, como Eduardo Carlos – da TV Cabo Branco – para impulsionar a clientela e as locações.
Editados na Chroma, instalada no mesmo prédio, os comerciais utilizavam cenas de filmes para falar de todas as formas de amor.
A proposta caiu nas graças do público, mas também incomodou a Igreja e as produtoras de cinema que viam nos filmes uma violação dos direitos do uso de imagem.
Bom, o fato é que a Love – do amor que não tinha idade, nem fronteiras, nem sexo e muito menos limites – caiu nas graças do povo, virou um fenômeno de bilheteria e se mudou para a Casa Rosada.
De minha parte, foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar. Até a chegada de novos formatos que culminaram com o streaming, passando pelo DVD e a televisão por assinatura.
Mas, enquanto durou, cumpriu a contento o seu papel, levando a maior diversão para a casa de um sem número de pessoas, numa época em que se assistia muitos filmes, em alguns casos com vários amigos e toda a família.
Isso porque ainda não existiam as mídias sociais, e as pessoas tinham tempo de sobra para ler e assistir filmes.
Tempos de muita ingenuidade e pureza, é bem verdade, mas não sou saudosista, como Gonzaga Rodrigues, e por isso sempre flertei com a modernidade.
E no que diz respeito à Love Vídeo, tive também perdas e danos, como no filme de Louis Malle.E, ao confundir a vida com a arte, descobri que a felicidade não se compra.
E essa foi, para mim, a última sessão de cinema. Sem direito a um final feliz.


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