Walter Santos

Multimídia e Analista Político.

Geral

Ney: lundum e futuro


01/02/2007

Foto: autor desconhecido.

Brasilia – A Capital Federal em tempo de posses é deslumbrante para os ‘novos cristãos’, sobretudo, aos que chegam visando assumir altos cargos, especialmente no Congresso Nacional. Parece país da fantasia com direito a altos jantares e vinho ‘descendo na canela’ – como diz o adágio popular para mal comparar tudo com fartura.

A mesma Brasília de festa é também cenário de fossa, dor-de-cotovelo, tristeza por assim dizer. Neste manto de pranto estão os desalojados da alta corte braziliense, os ex-poderosos.

‘Mutatis mutandi’ é neste ambiente último que está o ex-senador Ney Suassuna, ontem, despedindo-se de vez de um lugar que acostumou-se por inteiro ao longo dos últimos 12 anos fazendo dele a extensão de sua vida como um todo.

Desde ontem, a partir de hoje, Ney já não terá acesso fácil como tinha aos telefones vermelhos da Presidência e das altas figuras. É evidente que sua condição econômica lhe fará ser ouvido, mas muito menos de como acontecia na condição de senador e líder do PMDB – partido agora do poder.

Não o vi, pessoalmente, mas relatos de amigos seus por telefone demonstram o quanto ele assimilou o ‘ duro golpe’ de não mais fazer parte nesses próximos quatro anos da mais alta corte do poder no País.

Vai acostumar-se agora com a solidão e a descortesia comum aos que ‘perdem’ a magia do poder.

Durante os últimos dias ele já demonstrara a dor de ausentar-se do senado. Intimamente até chorou, desabafou muito, xingou eleitores da Paraíba por optar por seu adversário, mas Ney nessas horas não consegue ver e absorver a lição: ele foi o responsável por tudo isso.

Durante os 12 anos de mandato, Ney julgou de caso próprio que bastaria criar a imagem de trabalhador, senador de força para carrear recursos à combalida economia paraibana, mais um esforço pes$oal de ajuda a dezenas de prefeitos – somente isso seria suficiente para mantê-lo para sempre no poder senatorial. Ledo engano.

Ao longo dos anos, o senador trabalhador descuidou-se de questões básicas: misturou marketing simplório de aparição ridícula (ainda o caso das latas, gravatas estravagantes, jantares com jabá, etc) com o inverso do que postula a imagem de um senador, geralmente centrado, comedido.

Pior ainda: não cuidou de zelar mais radicalmente com as companhias ( foram vários os assessores flagrados em irregularidades) e deixou seu nome ser atingido no aspecto mais fundamental de um político, a credibilidade.

Ele pouco deu importância a esse aspecto, mas muitos da imprensa e pares seus diziam nos bastidores que tais vulnerabilidades sempre depuseram contra Ney, reconhecidamente um dos mais trabalhadores parlamentares dos últimos anos.

Como descuidou-se desses aspectos (afetando a honorabilidade) virou alvo fácil da grande mídia que, em 2006 o elegeu como a ‘figura do cão’sem que ele o fosse, como ficou provado ao final do processo no Senado ao inocenta-lo de quaisquer envolvimento com os sanguessugas.

Só que o veredicto veio em hora inadequada, já era tarde, quando já havia perdido no voto a postulação de se reeleger-se para a ante-sala do céu, como é lembrado o Senado de tapetes azuis.

Agora, resta o lundum e a dura verdade de conhecer a redução drástica dos “amigos” do poder, além de medidas jurídicas deflagradas recentemente tentando desalojar seu concorrente, Cícero Lucena, através de processo judiciais – operação muito dificil de se efetivar, em tese, até porque Cícero já foi empossado no cargo de senador.

Rico, multimilionário, Ney deve manter um tempo administrando o amuo para tentar refazer-se da adversidade política buscando voltar daqui a quatro anos – tempo ainda distante, mas que passa rápido.

Até lá deve ganhar muito dinheiro, triplicar sua fortuna, mas se não souber cuidar melhor da relação político / eleitor, afastando-se da imagem de ‘homem da mala’ mostrando mais afetividade com pessoas do ciclo social paraibano e gerando uma escolha melhor de assessores – tudo pode ser mais difícil para reentronar-se de novo no Senado.

Em síntese: o afrodisíaco poder, quando se perde, é capaz de tudo, até de depressão incontida. É a partir desse clima, que o Ney se reconstituirá (ou não) de um rio que passou em sua vida. Se não aprender a lição não estará digno para reascender no que ele hoje sofre com o mal da saudade (a ausência do mandato), logo ele um senador trabalhador como pouco se viu na história da Paraíba.

Mas, agora, como se diz na Torrelândia, “a inez é morta”.


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