Paraíba
Nas portas dos cabarés
09/06/2024

O título é de uma canção de Cego Oliveira e traduz a contento o habitat de uma profissão que fez parte do imaginário de muita gente nos tempos antigos, época em que não se fazia amor com tanta facilidade como nos dias de hoje.
Em João Pessoa, as chamadas casas de recursos, ocupavam a rua Maciel Pinheiro e seu entorno, principalmente a rua da Areia onde funcionava o célebre cabaré de Irene, figura lendária da prostituição na sua época.
Outro estabelecimento famoso nesse tempo era o Bar Tabajara, que ficava localizado na praça Antenor Navarro e rezava a lenda que não fechava nunca. Para que isso acontecesse, a casa não tinha portas e estava sempre aberta para uma clientela fiel.
Havia ainda um outro cabaré, no sentido literal da palavra com strip-tease e tudo o mais, na mesma praça e com uma escadaria íngreme que levava a uma boite esfumaçada onde um grupo de músicos tocava para meia dúzia de putas tristes.
Lembro que lá estive uma vez, com uma namorada de saudosa memória, tão somente para criar um clima antes de ir para um motel, mas já não havia o glamour de antigamente, nos chamados anos dourados da prostituição.
O fato é que esse tempo passado de mulheres de vida não tão fácil assim, ao contrário do que se pregava, teve seu apogeu em boa parte do século vinte e foi retratado e imortalizado em obras da nossa literatura em todas as regiões do país, além de ter povoado a mente de adolescentes, muitos deles estudantes, sem recursos para frequentar esses lugares de prazeres inusitados.
Um desses sonhos de consumo, louvado pelos frequentadores, ficava bem ao lado, na vizinha Rio Grande do Norte, e era gerenciado com pulso firme por uma bela mulher conhecida por Maria Boa.
A lembrança, da prostituta e do lugar, foi de um amigo médico que chegou a me enviar um vídeo contando a sua história e falando de sua importância no contexto dos prazeres proibidos de então.
Proibidos e caros, para falar a verdade, porque a prática dessa forma de amor era reservado aos políticos, usineiros e comerciantes da época.
Há quem diga, inclusive, que muitas dessas cortesãs eram bancadas por homens de fino trato, com uma conta bancária polpuda e roupas feitas sob medida. De modo que para mim e a grande maioria, era como caviar, que a gente nunca tinha visto, nunca havia comido e só tinha havido falar.
Além do que, essa prostituição de glamour já não era tão forte na minha geração, mas é inegável que na sua época era uma atividade relevante num centro pulsante que o tempo levou e que agora se tenta resgatar sem esses lendários cabarés.
A grosso modo, as portas desses lupanares se fecharam, mas janelas estão se abrindo para revelar cenários que nunca deixaram de existir.
Melhor dizendo. Os anéis se foram, alianças de um amor não correspondido, e ficaram os dedos. De Deus e dos homens. Os rios seguem seus cursos e as águas não param.
Além do que, a cidade precisa ter de volta esses espaços para crescer e se multiplicar. E também para aprender com o passado e construir um futuro melhor, inspirado até mesmo na história dos santos e pecadores que um dia viveram por aqui.
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