Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Cultura

“Modo Mãe”


07/05/2021

Já escrevi e muito sobre o espinhoso assunto da Maternidade. Sim, das delícias e dos sofrimentos solitários do ser mãe e criar filhos, independente do estado civil. O parto, a amamentação, a solidão, a carga mental, o complexo de perfeição, as culpas intermináveis, e a transformação da simbiose de se ser um, para depois ser dois, a partir do momento que se gera um filho. A sociedade sempre só ressaltou o lado do sagrado, do sacrifício inerente, e da plenitude. Interessava essa enaltação. Criar um posto, um pódio para que, o privado, os silêncios, e a vida dos homens pudessem acontecer lá fora, sem que a família fosse desintegrada.

Passado os séculos, tudo mudou. E claro, as mulheres são mães, trabalham, tem vida sexual, escolhem, e vivem com ou sem filhos. Mas, ainda temos tantos  pontos nevrálgicos e sem saída, como a conciliação da maternidade com a criação artística. A realização profissional com, e apesar dos filhos, pois uma mulher feliz nas suas realizações, com certeza será uma mãe melhor! Ainda mais num país que o pai, com raras exceções e em transformações em andamento, se exclui, da árdua tarefa da educação e proteção dos filhos. (a atriz Ingrid Guimarães estreou série no GNT – Modo Mãe, que expõe alguns desses conflitos). Mas não só! (outras escritoras/feministas há muito já falaram do tema, como Elizabeth Badinter, Adrienne Rich, Virginia Woolf, e Simone de Beauvoir só para citar algumas.

Quando olho para trás, vejo a minha própria vida com meus filhos Lucas e Daniel, hoje dois homens feitos. Eu trabalhava muito, e tentava me equilibrar para poder dar atenção aos filhos. Nos finais de semana, tinha que caber: atenção aos filhos, preparação das aulas, dormir, trabalho doméstico, algum lazer e dormir de novo – quando se tem filho pequeno, o que se quer sempre é dormir. Sempre tive diarista integral, de segunda a sábado; transporte escolar, o que me liberou da rotina exaustiva de levar e buscar na escola, embora tenha feito isso por anos. Cuidar dos deveres, vida escolar, festinhas, presentinhos, o vestir, o brincar, as birras, as férias duas vezes por ano, o dinheiro escasso para atividades de viagens por exemplo, experiências em família, diversão, horas nos cinemas, filmes, TVs, lanches, praias, circos, calçadinha, atividades esportivas, feiras de ciência. São algumas das experiências que protagonizava com meus filhos. Na maioria das vezes, na solidão da maternidade. Se pensarmos nas mulheres de baixa renda então, a exaustão é caso de saúde pública. Essas mulheres envelhecem antes da hora, adoecem, e morrem cedo, sem falar da violência doméstica, e dos sonhos, essa palavra de luxo.

Quando os filhos iam crescendo, outras atividades iam aparecendo. Motoristas virávamos! E quando ficam adultos, as preocupações mudam. De mudar as fraldas, para a segurança de uma adolescência sadia; vê-los encaminhados na vida. Das papinhas, ao vê-los realizados profissional e amorosamente. Em constata-los homens do bem. E quando pensamos que podemos finalmente descansar da tarefa do ser mãe, chegam os netos. Uma experiência que continua. Mas claro que, adocicada como dizem os amantes das avós. E a gente se enternece de novo! E filho, não cresce nunca quando a palavra é preocupação. Mesmo que elas mudem de foco e de lugar.

Das delícias? Se saber e se sentir barriguda e grávida; com os peitões, e  amamentar; ver os olhinhos amorosos de carinho e amor incondicional; ser feliz com a felicidade deles; chorar com e por eles; fazer uma comidinha especial para eles; socorrê-los na hora do machucado; receber abraços e beijos inesperadamente; e quando crescidos, conversar, trocar e amar! Pouco importa a ordem das coisas.

Sempre fiz almoços familiares pelo Dia das Mães. Este será o segundo ano que passaremos em branco. Como no Natal, Ano Novo, Carnaval, Semana Santa. Não recebo familiares nem visito ninguém. E assim será até termos a autorização da Ciência. Chamam isso de paranoia! Não é. É cuidado com a vida e com a vida do outro. É instinto de sobrevivência. Estamos em guerra. E na guerra a coisa mais importante é viver.

Abraço  todas as mães, a minha em particular. E os meus filhos.

Ana Adelaide Peixoto, João Pessoa, 07 de Maio, 2021


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //