Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

“Meu mundo e nada mais”


04/01/2014

Foto: autor desconhecido.

 

Em 1976 Guilherme Arantes iniciava sua carreira artística. Nesse ano compôs “Meu mundo e nada mais”, que seria trilha sonora da novela “Anjo mau”, da TV Globo. Na letra o “eu lírico” chora o desencanto provocado por algo muito grave na sua vida e que feriu profundamente a sua alma.

“Quando fui ferido vi tudo mudar/Das verdades que eu sabia/Só sobraram restos e eu não esqueci/Toda aquela paz que eu tinha”. Sente-se um homem ferido, abatido, com sua alma sangrando. Teria sido surpreendido por um acontecimento que o tornava desencantado com a vida. Nada mais seria como antes, “tudo mudara”. O que imaginava serem verdades inquestionáveis, se transformaram em simples lembranças, fragmentos, “restos” na memória. Lamentava não ter mais a paz que conheceu até então.

“Eu que tinha tudo hoje estou mudo, estou mudado”. Quem se achava uma pessoa contemplada com tudo o que era bom, agora se sentia sem voz, inibida, sem coragem até de gritar sua amargura. Não era mais o mesmo homem.

“À meia noite, à meia luz, pensando/Daria tudo por um modo de esquecer”. No silêncio da noite, na penumbra, chegam ao seu pensamento somente lembranças que gostaria de esquecer. E isso é quase uma tortura. Faria qualquer coisa para afastar essas recordações.

“Eu queria tanto, estar no escuro do meu quarto /À meia noite, à meia luz, sonhando/Daria tudo por meu mundo e nada mais”. A sensação de que havia perdido “o seu mundo” levava a desejar estar recolhido, sozinho, “no escuro do seu quarto”, no seu local de intimidade, viajando no mundo da imaginação na construção de sonhos que o fizessem retornar ao “seu mundo”. Nada mais aspirava.

“Não estou bem certo se ainda vou sorrir/Sem um travo de amargura/Como ser mais livre, como ser capaz/De enxergar um novo dia”. Está dominado pela desesperança, pelo desânimo, destruído. Acha que não terá mais motivos para sorrir sem sentir o gostinho do desamparo, dessa aflição que o atormenta. E se pergunta como readquirirá a capacidade de acreditar num novo tempo de alegrias e prazeres.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.
 

 


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