Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

“Meu mundo caiu”


26/11/2013

Foto: autor desconhecido.

A música embala sentimentos, sejam eles de alegria ou tristeza, comemorações ou lamentos, manifestações de amor ou de desenganos. Lupicínio Rodrigues rotulou como “músicas de dor de cotovelo”, aquelas que são cantadas ou ouvidas por pessoas que estão vivendo momentos de desilusão amorosa, sofrendo por amor. Há quem chame de “músicas de fossa”. São canções de forte conteúdo melancólico, tristes, falam de traições, romances encerrados, perda da pessoa amada, etc. Maysa, consagrada compositora e cantora da década de 50, é símbolo desse tipo de música. Suas músicas traziam nas letras esse canto de dor e de sofrimento.

“Meu mundo caiu”, foi lançada em 1958, é um dos maiores exemplos desse estilo de música. Maysa canta o sentimento de profundo abatimento com o rompimento de uma relação amorosa e a sensação de que a vida desmoronou, perdeu sentido.

“Meu mundo caiu/e me fez ficar assim”. Uma sensação de “fim do mundo”, quando percebe que falta chão para poder continuar a caminhar. Um estado depressivo que abate corações partidos. Instante em que não se consegue enxergar nada que motive viver. Uma realidade difícil de ser aceita.

“Você conseguiu/e agora diz que tem pena de mim”. O personagem da música reconhecendo que foi vítima de uma brincadeira, de uma ilusão. Vê que a pessoa que amava não deu importância ao envolvimento. E, decepcionado, descobre que restou da parte de sua antiga paixão apenas um sentimento de pena, inapropriado para quem considera ou estima outro.

“Não sei se me explico bem/nada pedi/nem a você, nem a ninguém/não fui eu quem caí”. Rebate essa indiferença observada, procurando explicar que nunca pediu nada em troca, nunca condicionou esse amor, nunca impôs condições para que ele existisse. Não faz seu perfil esse tipo de comportamento. Não faria isso com ninguém, muito menos a quem nutria uma atração afetiva e física tão intensa. Insiste em dizer que não foi ela que caiu e sim o mundo, a esperança, a expectativa de viver infinitamente uma linda história de amor.

“Sei que você me entendeu/sei que também não vai se importar”. Quando duas pessoas tornam-se parceiras na vida, mesmo que por pouco tempo, já dá para se conhecerem o bastante para imaginar o comportamento de cada uma em determinadas situações. Ela sabe que o ente querido, por quem estava apaixonada, compreende bem seu sofrimento. Mas sabe também que isso em nada vai abalar seu estado de espírito. Constata desoladamente que não havia correspondência nesse querer, do estar juntos.

“Se meu mundo caiu/eu que aprenda a me levantar”. Não adianta ficar ruminando os dissabores da vida. Se “o mundo caiu”, a si mesmo cabe a iniciativa de “levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”. Enfim a vida continua é preciso tomar consciência de que essa “queda” sirva como experiência e alerta para futuras situações iguais.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.

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