Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Entretenimento

“Marisa aos Montes”


12/05/2022

Ouvi essa definição de uma amiga nas redes sociais logo depois do show mais que maravilhoso da grande artista Marisa Monte, último dia 28/04, no Teatro Pedra do Reino. E concordo. Aos montes mesmo. E montanhas gigantes do meu amor por ela. E pelas tantas que ela é e representa.

Comprei o ingresso, aliás, uma amiga me comprou (obrigada Lenita Faissal), quando eu estava com Covid, em janeiro 2022, sem saber da vida dita normal do que seria em abril, o mês mais cruel (T.S. Eliot). Gracias a la vida pude ir ao show. E desde o primeiro acorde, não parei de me arrepiar, cantar, dançar na poltrona, e muito me emocionar. Desde o seu primeiro Cd, que amo essa artista. E comprei todos que pude e assisti muitos shows aqui em João Pessoa, inclusive o último, no Domus Hall, onde fui sozinha, e sozinha e em êxtase, fui às lágrimas de feliz que me senti. Assisti também a um outro no Rio em 2007, na Barra da Tijuca, na companhia de amigas, debaixo de chuva e lonjuras do Catete, onde estávamos hospedadas. Tudo por Marisa. E tudo valeu à pena.

Sou curiosa com a sua vida também. Seus amores, filhos, turnês, composições, repertório, Portela, e toda a sua trajetória musical. Morro de inveja de Dodi, seu vizinho Leãozinho, e parceiro musical de décadas, e baixista no show. Desde a Cor do Som, que o sigo também. De Davi Moraes, seu ex, e meu crush há anos. E de Chico Brown, por ser também apaixonada pelo seu pai, Carlinhos e o seu avô, Chico Buarque. Sou uma mulher de muitas paixões!

O que mais gosto de Marisa, primeiro a sua voz e pessoa no palco. Mas o seu repertório preenche todos os meus gostos: romântica, roqueira, blues, soul, brega, samba, bossa nova, jovem guarda tudo com um quê só dela. A sua languidez me seduz. Sua moda – sempre vintage e única. Seu gestual. E as suas posições políticas, o pouco que se escuta, na vida pessoal e pública. Discreta que só ela, sabe conduzir a sua vida artística. No show teve um uníssono Fora Bolsonaro que ela, elegante e silenciosamente repetiu e disse: “nem precisa pois ele nunca esteve aqui.” E logo depois Lula lá – que ela só acenou: “entendi”.

O show – Portas – foi tudo isso e mais um bocado. Estávamos reclusos há mais de dois anos. Então ver aquele teatro lotado, cheio de balões vermelhos a cantar beija eu…, foi divino. Trinta e duas músicas de todos os seus álbuns em 30 anos de carreira. As Portas enquanto portais, rituais de passagem, elementos transcendentais de projeção ao futuro. Sim, à esperança!  Ela, sempre acompanhada de um trabalho poético vigoroso das artes visuais (Batman Zavarez e Cláudio Torres), efeitos esses desenvolvidos a partir da exposição Fundos, da artista visual gaúcha, Lucia Koch.  As imagens das águas, das portas, do fogo, nos elementos abstratos, flora e fauna, cores, formas, tudo com uma iluminação que resultava num outro trabalho de arte. Que fachos de luzes eram aqueles? Um diálogo com imagem, som, cor, figurino, voz, instrumento. Tudo Tudo! Sem falar na sua banda que, com sopros, percussão, teclados, guitarra e tudo da mais pura nata dos músicos brasileiros (Pupilo, Pretinho da Serrinha, Antônio Neves, Eduardo Santana, e Lessa e os já citados acima), suas composições viravam hinos de celebração. O figurino? De deusa. E ela sabe disso. Se coroa, e veste o manto de todas as cores. Mas aquele vestido de lamê (ainda é isso?), da abertura? Reluzia todo o seu brilho de décadas e chegava até nós plateia, que encandeava os nossos sentidos.

De palhinha, teve o estrondo da sanfona der Waldonys, tocando Dominguinhos. Como não choramingar? O homem estranho ao meu lado, deve de ter se espantado com os meus aplausos e gritos de Bravo! Nada era suficiente para aplaudir aquela Deusa. Já sei namorar, já sei beijar de língua….fiquei rouca, pelas saudades. E Comida (no bis), temos sede de tudo, Marisa. Parabéns ao meu outro muso – Arnaldo Antunes! E no fim? A homenagem ao campinense Cassiano, “Cedo ou tarde”.

Eu queria muito ser alguém que tivesse um dom, um talento para trabalhar com uma artista como Marisa Monte. Tocar algo, cantar algo, ser sua vizinha como Dodi, trabalhar com ela, viajar com ela mundo afora, e conviver com alguém como ela. O tanto que ela me toca, me alegra e me emociona a vida toda. Junto com Caetano e Chico Buarque, eles fazem meu trio ternura e de amor. Amor de longe, claro. Mas que me abasteceram e abastecem toda a vida toda.

Obrigada Marisa! Por essa resistência poética. E pelo Bem que se quis, à capela!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 01 de maio, 2022


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //